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“Economiesuisse compete por ideias”

Keystone / Gaetan Bally

Tributação das empresas, relações com a União Europeia, a pandemia e a influência da economia sobre a política: em entrevista à swissinfo.ch, o presidente da Federação Suíça da Indústria (Economiesuisse), Christoph Mäder, fala sobre os principais desafios da economia helvética nos próximos anos.

swissinfo.ch: Quais o senhor considera serem os maiores desafios para a economia suíça nos próximos anos?

Christoph Mäder: Um grande desafio é o imposto mínimo global previsto de 15% sobre os lucros das grandes empresas. Isto irá prejudicar a competitividade da Suíça em benefício de outras nações menos disciplinadas fiscalmente.

Biografia

Christoph Mäder é presidente da EconomiesuisseLink externo desde outubro de 2020. Também faz parte dos conselhos administrativos de várias grandes empresas, incluindo a Bâloise Holding, a Ems-Chemie Holding e o Lonza Group. Durante sua carreira, ocupou vários cargos importantes de gestão na Syngenta, Sandoz e Novartis. Estudou direito na Universidade de Basileia e é um advogado licenciado.

Uma vez que não podemos escapar a estas novas regras da OCDE, devemos aplicá-las da maneira mais vantajosa possível – por exemplo, abolindo outros impostos, como o imposto de selo, e permitindo deduções fiscais mais elevadas (patent box etc).

swissinfo.ch: As novas regras são realmente assim tão ruins? Em grandes cantões como Zurique ou Berna nada deve mudar, em outros cantões (Genebra, Vaud) o aumento será de apenas 1%…

C.M.: Mas em cantões como Zug ou Nidwalden, os aumentos serão superiores a 3%. Além disso, para as grandes empresas, cada percentagem pode significar somas consideráveis. Em termos mais gerais, uma vez que os custos são elevados na Suíça, é imperativo que mantenhamos nossa competitividade fiscal a fim de continuar a exportar.

swissinfo.ch: E quanto aos recursos energéticos? Recentemente, o ministro da Economia, Guy Parmelin, apelou às empresas que se preparem para a escassez de energia a partir de 2025.

C.M.: Este é outro grande desafio. Uma oferta estável é um pré-requisito indispensável para garantir a competitividade das nossas indústrias e, por conseguinte, os nossos empregos. Temos de assinalar que as previsões do Conselho Federal (governo federal) eram demasiado otimistas: por um lado, a economia de energia foi superestimada e, por outro, o aumento da demanda de energia foi subestimado. Além disso, as soluções de descarbonização, por exemplo, a eletromobilidade, conduzem frequentemente a um maior consumo energético.

swissinfo.ch: Como o senhor avalia a forma com que o Conselho Federal e o Parlamento lidam com a pandemia?

C.M.: O balanço da Suíça é bastante positivo em comparação com o de muitos outros países. No entanto, é motivo de preocupação o endividamento das nossas finanças públicas. É importante que a nossa geração trabalhe a fim de reduzir a dívida por conta do Covid-19 sem repassá-la às gerações futuras.

swissinfo.ch: Após o fracasso do acordo-quadro com a União Europeia (UE), a Economiesuisse instou o Conselho Federal a dar prioridade ao acesso não discriminatório das empresas suíças ao mercado europeu. O que ele deveria fazer?

C.M.: Foi o Conselho Federal que decidiu interromper as negociações com a União Europeia, e, por isso, eu diria que cabe a ele encontrar soluções. E sem demora, porque os acordos bilaterais continuam sofrendo desgastes. Obviamente é uma tarefa difícil para a qual não se deve esperar soluções milagrosas. A melhor abordagem pode ser contar com negociações setoriais.

Christoph Mäder ist seit Oktober 2020 Präsident von Economiesuisse. Er sitzt zudem in Verwaltungsräten mehrerer grosser Unternehmen, darunter Bâloise Holding, Ems-Chemie Holding und Lonza Group. Während seiner beruflichen Laufbahn hatte er mehrere hohe Stabfunktionen bei Syngenta, Sandoz und Novartis inne. Er studierte Rechtswissenschaften an der Universität Basel und ist Inhaber eines Anwaltspatents. Keystone / Gaetan Bally

swissinfo.ch: Alguns observadores opinam que a Suíça resiste sistematicamente a uma aliança política com a União Europeia e que esse caminho é uma via sem volta…

C.M.: Para realizar negociações com sucesso, cada parte deve fazer concessões sem tentar “escolher a dedo” as melhores cerejas. Na minha opinião, o Conselho Federal tem ciência disso: quer encontrar uma solução estável a longo prazo e evitar o isolamento da Suíça. Mas o melhor caminho é difícil de encontrar. Além disso, a postura rígida sinalizada pela União Europeia – “do nosso jeito ou de nenhum” – não facilita a posição da Suíça.

swissinfo.ch: Deverá o governo dar prioridade aos novos acordos de livre-comércio não europeus em vez de tentar estabilizar suas relações com a União Europeia?

C.M.: Não me parece. Esses dois eixos são muito importantes e ambos devem ser perseguidos com igual intensidade.

swissinfo.ch: Quanto aos seus anseios, a Economiesuisse muitas vezes tem de convencer o povo antes das eleições. Como melhorar a imagem dela junto à população?

C.M.: Credibilidade é o nosso melhor trunfo. Estamos convencidos de que podemos ganhar o respeito das pessoas se justificarmos bem as nossas posições.

swissinfo.ch: Um grande tema na Suíça é também o financiamento de partidos políticos. Não é muito transparente, mas é sabido que algumas grandes empresas são doadores importantes…

C.M.: Em primeiro lugar, como o senhor aponta, são certas empresas e não a Economiesuisse que contribuem para o financiamento dos partidos. Basicamente, não vejo quaisquer problemas nessa situação, que é a mesma em outros países. Além disso, em dezembro de 2021, o Conselho Federal encaminhou para consulta a portaria sobre a transparência no financiamento político. De acordo com esta portaria, os partidos representados na Assembleia Federal devem divulgar anualmente seus rendimentos e doações cujo valor exceda 15 mil por contribuinte e por ano.

swissinfo.ch: Quanto dinheiro a Economiesuisse investe em campanhas políticas a cada ano?

C.M.: Por razões estratégicas, não divulgamos esses números. Quando a portaria entrar em vigor, manter-nos-emos fiéis ao que é exigido por lei. De qualquer modo, é completamente ilusório acreditar que podemos “comprar” decisões políticas. Pelo contrário, temos de apresentar argumentos convincentes.

swissinfo.ch: Os lobbies empresariais são bem-organizados e financiados. Será que eles têm tanta influência como a administração federal ou mesmo mais do que o parlamento e o Conselho Federal quando se trata da criação de leis?

C.M.: Não acho. A administração federal dispõe de recursos consideráveis, os quais foram inclusive recentemente reforçados. Quanto ao parlamento federal, é provável que tenha perdido algum terreno nos últimos anos. Além disso, os parlamentares tendem a ser cada vez mais influenciados pelas tendências sociais e não pelas posições de seus respectivos partidos. No Conselho Federal, é verdade que nossas posições estão bastante bem representadas, mas não constituem uma maioria.

“É completamente ilusório acreditar que a Economiesuisse pode ‘comprar’ decisões políticas”.

A Economiesuisse pode ser um ator influente no cenário federal, mas estamos em constante competição com um número crescente de outros grupos de interesse, por exemplo, os que colocam as questões ambientais em primeiro lugar. Em suma, há uma verdadeira competição de ideias.

swissinfo.ch: O presidente da Economiesuisse é algo como o oitavo conselheiro federal?

C.M.: Trata-se isso de uma lenda sem correspondência com a realidade.

swissinfo.ch: No entanto, o senhor mantém contatos muito regulares com o Conselho Federal e os membros do parlamento. É a pessoa, por exemplo, que mais participa das viagens do governo.

C.M.: Manter contatos regulares com o Conselho Federal e parlamentares é um componente essencial do meu trabalho. Ademais, esses contatos ocorrem nos dois sentidos. Durante as viagens oficiais, a Economiesuisse é responsável por reunir as delegações empresariais que acompanham os conselheiros federais. É, portanto, normal que eu faça parte dessas delegações.

swissinfo.ch: Defende o senhor convicções liberais ou antes os interesses de alguns dos membros da Economiesuisse? Por exemplo, o senhor é a favor de acordos compensatórios para a compra de aviões de combate?

C.M.: A Economiesuisse é claramente a favor do liberalismo econômico. Ao mesmo tempo, podemos tomar posições pragmáticas em determinadas áreas, como é comum em outros países. Nesse sentido, apoiamos sem remorsos os acordos compensatórios.

swissinfo.ch: Estava prevista a participação do senhor no Fórum Econômico Mundial (WEF), que foi novamente adiado. O que o senhor traz para casa desses eventos?  

C.M.: O WEF oferece uma oportunidade única para conhecer uma infinidade de líderes e participar de discussões intensivas sobre as principais questões de interesse comum, por exemplo, a proteção climática.

swissinfo.ch: Os custos desses encontros são parcialmente cobertos pelas autoridades públicas. Como os contribuintes podem beneficiar-se do WEF?

C.M.: O evento reforça significativamente a reputação da Suíça. Durante a conferência anual do WEF, o mundo inteiro fala de Davos e da Suíça. O fato de (quase) todo o Conselho Federal estar presente em Davos sublinha a importância do WEF para o nosso país.

Adaptação: Karleno Bocarro

(Übertragung aus dem Französischen: Christoph Kummer)

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