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Solitário na Suíça?

Alexandra Dufresne

A americana Alexandra Dufresne vive em Zurique com sua família. Ela descreve como é a experiência da solidão para um estrangeiro, especialmente durante o período de férias, e dá seus conselhos sobre como combatê-la.

A solidão que os estrangeiros experimentam na Suíça é como um mau vizinho: surpreendentemente divertido de reclamar e sempre atrapalhando o caminho. Muitos estrangeiros descrevem a Suíça como extraordinária em termos de segurança, beleza, infraestrutura, saúde, educação e equilíbrio entre trabalho e vida. Mas, eles também relatam ter problemas para fazer amigos aqui.

Lembro-me de me sentir tão deslocada que meu estômago doía

As férias são um período especialmente duro para estar solitário. A Suíça na época do Natal é um lugar mágico, a menos que você esteja sozinho. Se você estiver sozinho, pode sentir algum aconchego com as postagens de outras pessoas no Facebook – outra lembrança de que, enquanto outros têm círculos sociais estreitos, você é um excluído.

Pode ser difícil para um adulto fazer amigos, mesmo em seu próprio país. Trabalho, filhos, a vida toma seu rumo. Pessoas se mudam, amizades esmaecem. Você pode acordar aos 43 e perceber que, se tiver um ingresso extra para um jogo, não terá realmente certeza sobre para quem deve dá-lo.

Eu conheço bem a solidão. Trabalhei para uma grande firma de advocacia logo após a escola de Direito. Lembro-me de me sentir tão deslocada que meu estômago doía. Aos vinte e poucos anos, eu me mudei para uma nova cidade por causa de um novo emprego. Eu perguntei a uma de minhas colegas de trabalho se ela queria sair para jantar qualquer noite. Ela disse que não podia porque tinha coisas para fazer, como tomar um banho. Ouch.

E então, quando nós decidimos nos mudar para a Suíça, eu li os blogs e guias para americanos e me preparei para me sentir seriamente solitária. No entanto, os momentos de solidão que sinto após estar aqui há um ano e meio são raros e fugazes. Em todo caso, me sinto significativamente menos solitária do que em outras ocasiões da minha vida. Por quê?

Eu acho que a resposta – ironicamente – é estar me sentindo excluída. Passar de uma pessoa incluída para uma excluída me obrigou a me tornar mais aberta, amigável, menos julgadora e com menos medo de assumir riscos. Como excluída, eu me descobri fazendo coisas na Suíça que eu não fazia como incluída nos Estados Unidos, a saber:

1.    Deixar as pessoas ajudarem

Eu costumava achar que pedir ajuda era embaraçoso. Ninguém gosta de impor. No entanto, quando eu me mudei para um novo país com três filhos, não tive escolha: eu não sabia nada. Comecei a pedir ajuda às pessoas e, surpreendentemente, elas pareciam felizes em me ajudar.

Rapidamente aprendi que eu poderia ficar envergonhada de pedir ajuda ou simplesmente aceitá-la com gratidão. E acontece que as pessoas preferem a via da gratidão à via do embaraço. Eu comecei a aceitar ajuda com graça. E quanto mais fácil e agradecida eu era por receber ajuda, mais ajuda eu recebia.

2.    Fazer o primeiro movimento

Quando eu vivia na América, era muito tímida em fazer o primeiro movimento em termos de amizade. Eu estava, compreensivelmente, um tanto relutante após o incidente do banho. E porque nossa família permaneceu no mesmo lugar por longo tempo, eu não precisava fazer muito esforço.

Quando nós nos mudamos para a Suíça, não conhecíamos quase ninguém. Se eu quisesse estar em um clube do livro, precisaria começar um. Se eu quisesse que nossa família recebesse amigos para jantar, precisaria convidá-los. Se eu quisesse encontrar pessoas suíças, alemãs e americanas para nos queixarmos incessantemente de Trump juntos, precisaria encontrar essas pessoas também. Então, eu engoli meu orgulho e estendi a mão. Algumas vezes isso envolvia convidar outros pais com os quais eu somente havia conversado um punhado de vezes. Meus meninos começaram a zombar de mim: “Mamãe, você convida toda mulher que encontra na vizinhança para entrar no seu clube do livro inglês-alemão?”. Na verdade, sim.

3.    Não esperar demais

Quando você está na faculdade ou no ensino médio, é fácil encontrar o amigo perfeito – a pessoa especial que te entende completamente e a quem você ama completamente. Mas é injusto e irrealista esperar que todos possam suprir essa necessidade. Uma vez que você percebe que é ok ter muitos tipos diferentes de amigos – um amigo para fazer exercícios juntos, um amigo com quem você conversa sobre os pais, um amigo no trabalho, um vizinho amigo – e que nenhuma pessoa pode ser tudo, de repente você constrói relações que nunca havia achado possíveis.

Na mesma linha, eu me tornei visivelmente menos solitária quando percebi que pequenas relações de amizade também contam. O rapaz do caixa de vinte itens da Migros provavelmente não precisa de mim como amiga. Mas, quando eu esbarro com ele em alguma outra parte da cidade, nós ficamos realmente felizes de ver um ao outro. Ele realmente reage positivamente. O mesmo acontece com meu vizinho suíço de 70 anos e com as insones jovens mães que eu ajudo quando estão lutando com seus carrinhos dentro do transporte público. Nós não nos veremos novamente. Mas eu me sinto feliz quando damos risadas de nossas crianças e conversamos sobre o tempo; elas parecem felizes também.

4.    Praticar o alemão (ou francês, italiano ou reto-romano)

Falar alemão é como caminhar em um maiô enquanto todos os outros estão vestidos para negócios. (Aparentemente, quando eu falo, isso também é assim para meus filhos). Eu nunca falarei alemão tão bem quanto meus colegas e amigos aqui falam inglês. Eles começaram com uma antecedência de 20-40 anos; eu não sou mais jovem. No entanto, eu insisto em falar alemão por razões simbólicas: para sinalizar que eu gosto daqui, que eu estou tentando, e que eu estou disposta a me fazer de boba para mostrar o quanto eu quero pertencer. E funciona. Acontece que, se você está disposto a parecer bobo na frente das pessoas, elas farão o possível para te ajudar. Mais de uma vez passageiros dos teleféricos me ajudaram a estudar listas com preposições alemãs. Qualquer embaraço que eu senti foi reembolsado em forma de bondade.

5.    Ajudar

Quando eu me mudei para cá, estava relutante em me oferecer como voluntária, eu temia que fosse mais um fardo do que um benefício. Então eu encontrei alguma coisa que eu poderia fazer que requisitasse somente um pouquinho de alemão. Meu comprometimento é modesto: cerca de duas horas de cuidado infantil por mês para crianças cujos pais chegaram à Suíça como refugiados e que vêm a nossa igreja do bairro para aprender alemão. É uma coisa tão pequena. Mas elas têm uma alegria especial em conversar em alemão com outros estudantes de alemão e em deixar outra mãe ter uma pausa na troca de fraldas, ainda que seja por um momento.

6.    Ver a solidão ao seu redor

Na primeira vez que vi um cartaz de um hospital do câncer aqui na Suíça, eu pensei: “Bom, isso é bobagem: as pessoas não têm câncer na Suíça”. Imediatamente, eu percebi o absurdo desse meu pensamento. Mas, isso exemplifica um estereótipo que muitos estrangeiros têm. Porque a Suíça pode parecer um país perfeito para os recém-chegados, nós achamos que todas as pessoas suíças têm vidas perfeitas: sem alcoolismo, sem abuso de drogas, sem violência, sem divórcio, sem problemas mentais, sem solidão. Quando cheguei aqui, eu achava que as pessoas falando alemão ou suíço-alemão no trem estavam discutindo filosofia – elas me soavam tão eruditas. Agora que eu posso entender um pouco melhor, percebo que estavam apenas falando sobre o tempo, como pessoas de qualquer lugar.

Na verdade, é possível que o verniz da perfeição possa piorar o isolamento social. Há cartazes de serviço público nos bondes de Zurique encorajando as pessoas a falar sobre seus desafios em termos de saúde mental. As igrejas pagam propagandas nas paradas de bonde que dizem que você pode parar e conversar com alguém. A taxa de suicídios na Suíça continua extremamente dolorosa. Sempre que eu converso com suíços sobre o pensamento convencional de muitos estrangeiros, para quem “os suíços já têm todos os amigos de que precisam”, eles insistem que isso não é verdade, que eles são apenas um pouco tímidos, um pouco reservados.

Alexandra Dufresne é advogada especializada em direito de família e refugiados. Ela foi professora de direito em Yale de 2006 a 2015. Recentemente se mudou com a família para Zurique.

E assim, nesta temporada de férias, se você se sentir solitário, eu lamento. Eu conheço essa sensação. Todos já nos sentimos assim; todos nos sentiremos assim novamente. Mas, tente enxergar se você pode usar a exclusão em sua vantagem. Isso deve funcionar. Você pode conseguir fazer com que alguém se sinta mais incluído.

As opiniões expressas neste artigo são somente aquelas do autor, e não necessariamente refletem as opiniões de swissinfo.ch


Adaptação: Maurício Thuswohl

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