A crise é risco e chance
Para Chico Whitaker, um dos fundadores e membro do Secretariado Internacional do Fórum Social Mundial, já se pode falar de uma "crise de civilização".
Em entrevista à swissinfo, ele diz que o FSM em Belém precisa mostrar como é possível superar a dominação da lógica do mercado.
Swissinfo: Como em Davos, a crise financeira-econômica também também será central no Fórum Social Mundial?
Chico Whitaker: Seguramente. São muitas as atividades sobre esta questão propostas pelos participantes do FSM. Ela é uma crise muito séria para que se continue a vida como se nada estivesse acontecendo.
Só que em Davos ela aparecerá como uma enorme ameaça ao domínio do mundo pela lógica do mercado, enquanto em Belém ela será vista como uma demonstração de que é preciso efetivamente superar essa dominação e uma boa ocasião para ver como apressar essa superação. Ou seja, o verso e o reverso da medalha dentro do conhecido conceito chinês de crise: risco e oportunidade…
Na mídia, a crise climática desapareceu. No FSM os refugiados climáticos e a injustiça climática serão debatidos? Vai ser preciso Obama colocar o assunto em pauta?
Acho que desapareceu porque a crise financeira se avolumou muito mais… Mas o fato deste FSM se realizar na Amazônia, onde as questões de meio ambiente são centrais, atraiu para cá muitos dos que discutem saídas para essa crise. E também foram muitas as atividades sobre esta questão propostas pelos participantes do FSM. Vamos ver também se Obama a retoma…
Nessa nona edição, o lema do FSM parece mais atual do que nunca. “Um outro mundo é possível” deixou de ser uma idéia de “utopistas”, no sentido pejorativo?
Exatamente. Esta nona edição (as de 2006 e de 2008 também foram edições do FSM, mas em formatos diferentes) acontece num momento em que muitas crises se sobrepõem, permitindo que já se fale em “crise de civilização”, como é proposto em vários seminários que se realizarão.
Nesse intervalo de crise, o FSM tem como e deve se infiltrar na brecha?
Esse é o desafio. Encontrar o “como” fazer as coisas é sempre muito mais difícil do que simplesmente dizer onde se quer chegar. Há nove anos discutimos esse “como”, a partir da afirmação, feita no primeiro fórum, de que “outro mundo é possível”. Hoje mais do que nunca ela aparece nitidamente também como “necessária e urgente”.
swissinfo, Claudinê Gonçalves
Chico Whitaker é membro do Secretariado Internacional do Fórum Social Mundial (FSM), como representante da Comissão de Justiça e Paz, órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Nasceu em 1931 e foi membro da Juventude Católica nos anos 50. Formou-se em arquitetura em 1957, passou a trabalhar com o padre francês Joseph Lebret, fundador do Instituto de Pesquisas Sagmacs, em São Paulo.
A partir de 1959 trabalhou em planificação urbana e regional de políticas públicas.
Passou 15 anos exílio trabalhando na França e no Chile.
Foi vereador em São Paulo pelo PT (1988-1996). De 1996 a 2003 foi secretário da Comissão de Justiça e Paz. Em janeiro de 2006 deixou o PT.
Em 2006, ganhou o prêmio Right Livelihood Award, na Suécia, atribuído às pessoas que se destacam em atividades de respeito ao próximo e à natureza.
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