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Cães e gatos podem virar combustível

O melhor amigo do homem pode virar combustível de carro? Keystone

As mudanças climáticas e a rarefação das reservas de petróleo obrigam os governos a procurar novas fontes de energia. Na Suíça surgiu a idéia de produzir diesel a partir da farinha e gordura animal.

Porém muitas pessoas não conseguem imaginar que o próprio cachorro de estimação termine no tanque do automóvel.

A carência crescente de energia no mundo, o esgotamento das fontes de petróleo e os perigos trazidos pelas mudanças climáticas aceleram as pesquisas feitas à procura de novas fontes energéticas.

Alguns países querem incentivar o biodiesel produzido a partir de óleos vegetais. Na Suíça existem projetos para criar um combustível a partir de cadáveres de animais. O maior deles será lançado brevemente pela Centravo-GZM, uma empresa que processa a metade de todos os restos mortais de animais no país.

Antes eles viraram adubo ou alimento animal

– Recebemos anualmente 100 mil toneladas de esqueletos e cadáveres dos açougues e outros centros regionais de triagem. A partir desse material produzimos gordura e farinha animal – explica Georg Herriger, porta-voz da Centravo-GZM.

Há dez anos, esses produtos eram completamente reaproveitados. A farinha animal, por exemplo, era utilizada na produção de adubo ou como alimento para o gado.

Porém a doença da “vaca louca” fez com que as autoridades proibissem a canibalização forçada dos animais. A farinha animal, que pode conter o agente causador da doença que não é um vírus, bactéria ou parasita, mas sim uma proteína anormal chamada príon.

Os primeiros casos de “vaca louca” foram detectados no Reino Unido, em 1985. Em 1996, o Governo britânico admitiu pela primeira vez a relação entre a EEB e a doença de Creutzfeldt-Jakob, que afeta humanos e que desde então provocou a morte de 169 pessoas no mundo.

Desde então as regras atuais de higiene obrigam a incineração de cadáveres de animais. Sua cinzas são utilizadas atualmente na produção de cimento.

Alto teor energético

– Quando descobrimos alto teor energético desse material, resolvemos pensar uma forma prática de utilizá-lo. Nesse sentido a empresa TMF em Bazenheid, cantão de St. Gallen, iniciou um projeto-piloto para a produção de diesel de motores de baixa rotação como motores de barcos.

A Centravo-GZM pretende também investir na produção de um combustível alternativo para os automóveis. Nesse sentido ela irá construir uma fábrica em Lyss (cidade ao norte de Berna) para a extração de diesel de gordura animal.

Enquanto o biodiesel tem apenas base vegetal, o novo combustível, chamado “Biodiesel plus”, será acrescido em 5% com diesel de origem fóssil.

Debate aberto

A Centravo-GZM espera receber do Parlamento isenção fiscal para a construção a fábrica de produção do combustível biológico. Para ela, do ponto de vista ecológico, biodiesel de origem animal seria muito melhor do que o biodiesel vegetal.

– A produção do biodiesel vegetal exige a plantação e colhimento de girassol ou outras plantas. Por outro lado, a produção do “biodiesel plus” utiliza um material de origem animal que já está à disposição – reforça Herrigere.

Depois que diversos jornais suíços publicaram matérias sobre o projeto da Centravo-GZM, um debate polêmico surgiu no país dos Alpes, sobretudo depois que os leitores descobriram que cadáveres de animais domésticos, recolhidos em diversos centros de triagem, também poderão ser utilizados para a produção do biodisel especial.

Imaginar que o próprio gato ou cachorro possa terminar no tanque de um carro particular é terrível para muitas pessoas. Em relação à questão, o porta-voz da empresa tenta relativizar:

– Ninguém precisa sacrificar seu animal de estimação. Se este pesar menos do que dez quilos, é possível enterrá-lo no próprio jardim ou levado para crematórios especiais – afirma Herriger.

Questão de ética

Organizações de defesa dos direitos animais também vêem com reserva o projeto da Centravo, mas sabem que têm poucos instrumentos legais para impedir sua realização.

A sociedade deve decidir em termos éticos se animais, assim como seres humanos, não teriam o direito à paz eterna – explica o filósofo Bernhard Trachsel, que também é o diretor de uma ONG de proteção aos animais em Zurique.

– Se não reconhecemos esse direito para os animais, então não podemos condenar as diferentes formas de reutilização dos cadáveres de animais. Afinal, tanto faz se a sociedade irá utilizá-los para produzir adubo, cimento ou combustível. Eu pessoalmente não posso imaginar que um cão ou gato, que passaram anos convivendo com uma família, possam ser transformados em biodiesel ou qualquer outro tipo de produto.

swissinfo, Armando Mombelli

Consumo de energia na Suíça (2004): petróleo (57%), eletricidade (23,1%), gás (12,1%) e outros como carvão e madeira (7,8%).
Fontes alternativas de energia: sol, vento, biomassa e outros. Porém elas suprem apenas 1% da carência energética do país.
O Parlamento helvético aprovou uma lei em que as emissões de CO2 devem ser reduzidas em 10% até que os níveis de 1990 sejam atingidos.

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