Lobby nuclear pede mais usinas na Suíça
A defesa da opção nuclear pelo governo federal dá fôlego para o lobby atômico, que anuncia para breve a entrada de um pedido de autorização para a construção de uma nova central nuclear na Suíça.
Paralelamente, grupos ecologistas declaram que irão combater a energia nuclear. Já jovens dos grandes partidos afirmam que querem se unir contra as centrais à gás.
O presidente da “Aliança Suíça para uma Política Energética Razoável” (ESPER), Rolf Schweiger, declara que o grupo lobista pretende entrar com um pedido de autorização para a construção de uma nova central nuclear em dezoito meses.
Durante uma entrevista dada no sábado (24 de fevereiro) à rádio DRS, o senador ainda acrescentou que os cidadãos podem manifestar sobre a questão atômica até 2012. Até lá, o pedido de autorização para a construção já deve estar formalizado.
Uma nova central nuclear deve iniciar a produção de energia até 2020, segundo o calendário do lobby atômico. Para manter esses prazos, Rolf Schweiger quer encurtar os procedimentos legais. “É importante que o Estado também possa ser eficaz”, defende o senador.
Mais grupos
O grupo denominado “Atel” quer montar até o final do ano juntamente com seus parceiros – Axpo, a companhia energética de Berna ou diversas prefeituras – um consórcio em prol da planificação e a construção de uma ou várias novas centrais nucleares.
Um pedido de autorização geral poderá ser entregue em 2008 ou 2009 caso as atuais centrais de Beznau (cantão da Argóvia) ou Gösgen (cantão de Solothur) sejam mantidos como locais de implantações das novas usinas, declarou no domingo o presidente da Atel, Giovanni Leonardi, em entrevista ao jornal “SonntagsZeitung”.
Educar pela carteira
Essa tomada de posição dos diferentes grupos de lobistas ocorre apenas três dias após a decisão governamental de reorientar a política energética suíça.
Para impedir o risco de penúria ou até mesmo de “apagões”, a nova estratégia está baseada em quatro pontos: melhorar a eficiência energética, promover fontes energéticas renováveis, construção de novas grandes centrais elétricas e melhorar a cooperação internacional no setor.
O chefe do Departamento Federal de Energia, o ministro Moritz Leuenberger, privilegia mais incentivos fiscais do que campanhas moralistas feitas para a população. “A única maneira de educar as pessoas é através da carteira de dinheiro”, declarou Leuenberger durante uma entrevista realizada na sexta-feira pela televisão suíça.
Por seu lado, Rolf Schweiger estima que as economias de energia não serão suficientes. Ele julga que a Suíça já é um país de grande eficiência energética, apesar das críticas feitas pelos partidos de esquerda que lembram o grande desperdício no setor.
Para a ONG WWF, a energia nuclear é inútil
Por seu lado, o Fundo Mundial pela Natureza (WWF, na sigla em inglês) também reagiu no sábado. Seu diretor Hans-Peter Fricker, declarou no jornal “Der Bund” que a Suíça não tem necessidade de novas centrais nucleares se todas as medidas de economia e de eficiência energética forem tomadas.
Ele reconhece que o consumo de energia aumentou consideravelmente nos últimos anos, porém isso não é visto como uma fatalidade. O WWF está convencido de que essa tendência pode ser interrompida, sobretudo através da introdução de incentivos fiscais ou aumentando o preço da energia.
A ONG também destaca o progresso tecnológico. Como exemplo, Fricker cita as novas técnicas de isolamento de prédios. Os suíços vivem hoje em dia em residências muito maiores, mas as despesas de energia não aumentaram na mesma proporção graças à utilização dessas novas técnicas de construção.
Jovens contra as centrais à gás
O debate sobre a questão energética também trouxe a voz dos grupos jovens dos maiores partidos helvéticos.
A decisão de construir centrais à gás, decidida pelo governo federal, somou grupos de jovens políticos do Partido Democrata-Cristão, Partido Socialista, o Partido Radical, Partido Verde e também até das alas mais direitistas como a União Democrática do Centro.
A juventude compreende a urgência do tema e se uniu, como declarou a ecologista Aline Trede sexta-feira durante uma coletiva de imprensa. “O último relatório sobre o clima da ONU é claro e querer jogar milhões de toneladas de CO2 suplementares na atmosfera é uma brincadeira de mau gosto”, declarou a política.
Adrian Michel, do grupo “Jovens Radicais”, critica a decisão oficial de construir novas usinas à gás. “Essa é uma solução cara e também falsa para resolver o problema”.
Já os jovens socialistas consideram “essa uma opção transitória, que se transforma em uma decisão cosmética”. Sua presença diminuirá a pressão para que sejam feitas mais pesquisas em direção a outras soluções. As novas usinas também irão colaborar par o aquecimento do clima, como afirmou Sebastian Dissler.
O comunicado conjunto dos grupos de jovens políticos é inédito na Suíça, mesmo se a cadeira do representante do partido de direita União Democrática do Centro (UDC) tenha permanecido vazia durante a coletiva de imprensa.
swissinfo e agências
Na última quarta-feira (21 de fevereiro), o governo suíço decidiu reorientar a política energética do país para evitar o risco de penúria ou “apagões”.
A nova estratégia está baseada em quatro pontos: melhorar a eficiência energética, promover fontes energéticas renováveis, construção de novas grandes centrais elétricas e melhorar a cooperação internacional no setor.
O governo federal estima que é inevitável a construção de uma nova central nuclear. Enquanto isso não foi realizado, os ministros defendem a construção de novas centrais à gás.
A Suíça dispõe de cinco centrais nucleares: Beznau 1 e 2 (cantão da Argóvia – elas entraram em função e 1969 e 1972, respectivamente), Mühleberg (Berne, 1972), Gösgen (cantão de Solothurn, 1978) e Leibstadt (cantão da Argóvia, 1984).
A energia nuclear representa 38% da produção energética anual média (pode chegar até a 45% no inverno). A média européia é de 33%.
As centrais nucleares suíças estão chegando no fim da sua vida útil. Porém a nova Lei da Energia Nuclear estipula que a construção de novas centrais deve ser submetida à plebiscito popular facultativo.
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