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Mídia incentiva a vida de “dona-de-casa”

O trabalho é duro, mas alguém tem de fazê-lo. Keystone

Abandonar carreiras bem-sucedidas para cuidar de crianças e do lar é autalmente uma escolha voluntária para muitas mulheres.

Uma delas é a apresentadora de TV alemã Eva Herman, que se tornou famosa ao lançar o livro “O princípio de Eva”, onde ela defende as donas-de-casa. Na Suíça algumas feministas protestam contra a nova moda.

A nova dona-de-casa é definida como sendo tipicamente uma mulher educada, que abandonou sua carreira – temporariamente ou permanentemente – para ser mãe em tempo integral. O novo aspecto no fato é que atualmente a decisão é tomada de forma consciente e não mais ditada pela tradição.

Herman argumenta que ao invés de fazer tudo – e esgotando-se nesse processo – as mães deveriam focalizar em passar o tempo com seus filhos. E isso significa ficar em casa.
As posições de Herman encontraram eco na Suíça, onde a escritora Marianne Siegenthaler acaba de publicar seu próprio livro: “Dona-de-casa – o melhor trabalho do mundo”, ressaltando as virtudes do emprego do lar.

“Donas-de-casa têm uma imagem negativa e eu estou apenas tentando melhorá-la”, conta Siegenthaler à swissinfo, enquanto admite que o título da sua obra é deliberadamente provocador.

“Eu não estou dizendo que as mulheres têm de retornar para a cozinha, como a Eva Herman defende, mas que elas precisam poder escolher”, declara a mãe e jornalista freelance. “E se elas decidem ficar em casa, então devem também aproveitar bastante dessa situação”.

Maternidade e bolos

Mãe de três crianças, Alexa Tschan vê muitos pontos positivos no papel de dona-de-casa em tempo integral. Na faixa dos trinta anos, ela desistiu de uma promissora carreira jurídica quando teve seu primeiro filho. Tschan é um exemplo perfeito da nova “mulher do lar”.

“É muito bom ser o seu próprio chefe. Eu posso organizar o dia da forma como eu quero. Eu me sinto muito livre e não me arrependo de forma nenhuma da decisão que tomei”, conta à swissinfo.

Apesar disso, Tschan ressalta que a vida de dona-de-casa não é apenas maternidade e passar o dia fazendo bolos. Além disso, ainda existe a falta de reconhecimento, sem falar na perda considerável de rendimentos.

Markus Theunert, presidente do Fórum Suíço para Homens e Emancipação, um grupo de interesse com site na Internet (www.maenner.ch) faz a válida observação que mulheres só podem tomar a decisão de ficar em casa se seus parceiros (normalmente homens) se responsabilizam por trazer o dinheiro para a casa. Na sua opinião, a autora alemã Herman e a suíça Siegenthaler parecem tentar “reconstruir antigos estereótipos” do homem e da mulher.

“Se você vive com uma dona-de-casa, é necessário ter o homem que ganhe o pão-de-todo-dia e esse é o típico papel do homem”, declara.

“Tetos de vidro”

Enquanto ele fala sobre o trabalho de “administradora doméstica”, Siegenthaler admite tarefas do lar – especialmente a limpeza – não são muito atraentes. Porém ela afirma que cada vez mais mulheres estão decidindo ficar em casa e limpar o chão, do que bater suas cabeças nos tetos de vidro das grandes empresas.

Uma das razões é a grande dificuldade de conjugar a carreira com a educação das crianças na Suíça. Por isso muitas mulheres preferem trabalhar em tempo parcial. O único problema é que essa modalidade de emprego termina por frear suas pretensões aos cargos de chefia.

“Eu acredito que muitas mulheres estão se desiludindo com a idéia de que elas podem fazer tudo ao mesmo tempo – cuidar das crianças, do lar e fazer carreira ao mesmo tempo. Elas aprendem logo que isso é impossível”, reforça.

“Elas irão chegar num ponto onde terão que dizer: ‘é demais para mim. Eu não estou progredindo na minha carreira’. E nesse ponto elas podem decidir que o melhor é mesmo ficar em casa”.

A partir do momento que a decisão foi tomada, elas podem olhar para frente e organizar sua própria vida sem a pressão de ter que lidar com os colegas ou se curvando às decisões de um chefe. Essa é a única compensação para o dinheiro que não está mais entrando no final de cada mês.

swissinfo, Morven McLean

Do atlas da mulher e da igualdade na Suíça (estatísticas para 2000):
Em 37% das famílias com crianças acima de sete anos, os homens trabalham em tempo integral e as mulheres ficam em casa (modelo tradicional de classe média).
Em cerca de 37% das famílias, os homens trabalham em período integral e as mulheres de forma parcial (modelo moderno de classe média).
Em 12% das famílias, os dois trabalham em período integral (modelo igualitário).
Em 3,5% das famílias, os dois trabalham de forma parcial (modelo igualitário).

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