Morre Menéndez, ex-hierarca da ditadura argentina
O ex-hierarca da ditadura argentina Luciano Benjamín Menéndez, cuja crueldade lhe valeu o apelido de “a Hiena”, morreu nesta terça-feira (27), aos 90 anos, em prisão domiciliar e após acumular 14 condenações, 13 delas à prisão perpétua por crimes contra a humanidade.
O temível ex-militar era o repressor com o maior número de condenações como responsável por centenas de sequestros, assassinatos e torturas. Era julgado novamente quando morreu em um hospital militar por uma doença hepática.
Estava hospitalizado desde 7 de fevereiro em Córdoba, província onde executou com mãos de ferro a política de repressão da ditadura argentina (1976-1983) com influência no centro e norte do país.
Apelidado de “a Hiena”, “Chacal” e “Cachorro”, esteve entre 1975 e 1979 à frente do Terceiro Corpo do Exército, uma estratégica unidade militar com sede em Córdoba, zona de forte desenvolvimento industrial e que foi berço de históricas lutas sindicais nas décadas de 1960 e 1970.
Foi destituído do Exército em 2011 após ser considerado culpado por crimes atrozes que ele sempre negou.
“Antecedentes criminais? Sequer ultrapassei um sinal vermelho na minha vida”, respondeu ante uma pergunta de praxe do tribunal durante o julgamento que o condenou por privação ilegal de liberdade, torturas seguidas de morte, homicídio qualificado com aleivosia, crueldade com tortura agravadas, operação de busca e apreensão ilegal, desaparecimento de um menor de idade, estupro e usurpação.
– Morreu a Morte –
“Morreu a morte: às 11:20 morreu o genocida Luciano Benjamín Menéndez. Diferentemente de suas vítimas, sabemos a hora, o lugar e sua família pode se despedir. Chegou a ser condenado a uma prisão comum, perpétua e efetiva, o único lugar para um genocida. 30.000 presentes!”, expressou através das redes sociais a organização HIJOS, de desaparecidos durante a ditadura.
Menéndez teve sete filhos.
O governador de Córdoba, Juan Schiaretti, o recordou como “a máxima expressão da ditadura genocida”.
Menéndez nunca mostrou remorso pelos crimes cometidos nos campos de concentração sob sua custódia. “Não houve repressão ilegal”, disse ele durante um dos julgamentos.
“Os criminosos acusam as forças legais e se apresentam à Justiça dizendo que são vítimas”, afirmou ele na frente dos juízes.
Homem forte da ditadura e representante da ala mais dura do Exército durante os anos de chumbo, chegou a chamar de “brandos” outros hierarcas, como o temível Jorge Rafael Videla, também condenado e morto há anos.
“Se nos deixarem atacar os ‘chilotes’, os levaremos até a Ilha de Páscoa, o brinde de final de ano iremos fazer no Palácio de La Moneda e depois iremos mijar o champanhe no Pacífico”, é uma das frases atribuídas ao ferrenho partidário de iniciar uma guerra com o Chile pelo Canal Beagle.
Sob suas ordens funcionou o centro clandestino de ‘La Perla’, por onde passaram milhares de detidos de cujas sessões de tortura e fuzilamento costumava participar, segundo relataram testemunhas.
Havia sido indultado em 1990 pelo então presidente Carlos Menem (1989-1999), mas em 2003 a Justiça anulou as leis de anistia e em 2005 também o perdão que lhe havia sido outorgado na democracia.
Em 1984, quando ainda estava em liberdade, ameaçou com uma faca que levava escondida na roupa um grupo de manifestantes que o repudiou, entre eles as Mãe da Praça de Maio, na saída de um canal de televisão para onde havia sido convidado. Somente seu segurança foi capaz de detê-lo e impedir o ataque.
A ditadura argentina deixou 30 mil desaparecidos, de acordo com entidades de direitos humanos.