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Planeta em turbulência

Moradores de uma comunidade ribeirinha carregam alimentos e recipientes com água potável após serem distribuídos pela ação de ajuda humanitária do estado devido à seca contínua e às altas temperaturas que afetam a região do rio Solimões, em Careiro da Várzea, estado do Amazonas, Brasil, terça-feira, 24 de outubro de 2023.
Enchentes no sul, seca na Amazônia: cientistas do clima não acreditam mais que a meta de restringir o aquecimento global a 1,5 graus Celsius seja possivel. Keystone-AP/Edmar Barros

As mídias suíças acompanham as inundações no sul do Brasil, relacionando a tragédia com o superaquecimento do planeta o qual tem provocado outros fenômenos, como alterações na migração das cegonhas de Portugal. Confira.

Nesta semana, de 4 a 10 de maio de 2024, vasculhamos a imprensa suíça para dar uma visão geral das notícias mais importantes relacionadas ao Brasil, Portugal e África lusófona.

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Cada grau centígrado provoca eventos extremos 

Não se pode mais observar isoladamente uma tragédia como a que ainda assola o sul do Brasil. O mundo voltou a registrar temperaturas “extraordinárias” em abril, com um novo recorde mensal de calor tanto na terra quanto na superfície dos oceanos. Essas são as conclusões do último relatório do observatório europeu Copenicus, publicado na quarta-feira.

A reportagem do site de notícias bluewin.ch ecoa fatos destacados nos principais órgãos internacionais de imprensa.

O fenômeno climático natural El Niño “continuou a enfraquecer”, sugerindo uma possível pausa no final do ano, mas sem alterar a tendência subjacente de aquecimento alimentada pela combustão maciça de petróleo, carvão e gás fóssil.

Desde junho do ano passado, todos os meses quebraram seu próprio recorde mensal de calor. Abril de 2024 não é exceção, com uma temperatura média de 15,03 °C, 1,58 °C mais alta do que um abril normal no clima da era pré-industrial (1850-1900).

“Embora incomum, essa série de registros mensais já havia sido observada em 2015/2016”, explica o Copernicus. Nos últimos 12 meses, a temperatura global foi, em média, 1,61°C mais alta do que na era pré-industrial, ultrapassando o limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris de 2015. No entanto, seria necessário calcular a média dessa anomalia ao longo de várias décadas para que o clima pudesse ser considerado como tendo atingido esse limite crítico.

Fonte: bluewin.chLink externo, 08.05.2024 (em francês) 

Cegonhas sedentárias

Devido às mudanças climáticas, as cegonhas estão abandonando sua migração ritual para a África e preferindo as chaminés e os postes de Portugal. Essa sedentarização em massa reduz a mortalidade durante a migração, mas o problema da eletrocussão persiste.

Até a virada do século, essas aves pernaltas eram uma das espécies em perigo de extinção no país ibérico, mas seu número quase dobrou na última década, de cerca de 12.000 casais para cerca de 20.000, de acordo com estimativas científicas.

Embora as cegonhas continuem a migrar durante seus primeiros anos de vida, elas se assentam quando atingem a idade adulta e chega a hora de se reproduzir. Essa sedentarização, observada em “quase 80% dessas aves”, evita os muitos riscos associados à migração e, consequentemente, reduz a mortalidade das cegonhas.

Após uma queda considerável, principalmente devido à seca na região africana do Sahel, o número de cegonhas começou a aumentar novamente na década de 1980. Em Portugal, elas estão encontrando condições mais favoráveis. Atualmente, quase um quarto dessas aves brancas faz seus ninhos em plataformas colocadas propositadamente em postes metálicos de eletricidade, que a imprensa local comparou a verdadeiras “maternidades de cegonhas”.

Fonte: BlickLink externo, 08.05.2024 (em francês) 

People on the top of the Nazare lighthouse watch as waves break during a big wave surfing session at the Praia do Norte, or North beach, in Nazare, Portugal, Friday, Feb. 10, 2017. (AP Photo/Armando Franca)
A vista do farol de Nazaré. KEYSTONE/Copyright 2017 The Associated Press. All rights reserved.

A maior onda jamais surfada 

Nazaré, Portugal, foi onde, em 2020, o alemão Sebastian Steudtner surfou uma onda de 26,2 metros, o atual recorde mundial.

Mas em abril, Steudtner compartilhou imagens – filmadas em Nazaré em 24 de fevereiro – que sugerem que o recorde pode ter sido quebrado. Não porque nossos olhos estejam aguçados, mas porque, depois de analisar os dados registrados, Steudtner e sua equipe afirmam que a onda tinha 28,57 metros de altura naquele dia em Portugal, o equivalente a um prédio de nove andares.

Ainda vai demorar muito para que essa altura seja confirmada, pois as autoridades terão que analisar a onda e os vários dados medidos. O recorde atual – estabelecido em 2020 – só foi certificado em 2022 pela World Surf League (WSL), a organização responsável pelas competições profissionais, e pelo Guinness Book of Records. Isso reflete a complexidade de medir com precisão a altura das ondas.

Fonte: WatsonLink externo, 03.05.2024 (em francês) 

Auxílio ao aborto, um trabalho de risco

A revista semanal Das Magazin publicou na última semana o depoimento da antropóloga e ativista brasileira Debora Diniz (54), que ajuda mulheres que desejam abortar.

“A primeira coisa que faço todas as manhãs é abrir minha conta do Instagram e ver quem escreveu para mim. Em média, duas a três mulheres por dia que engravidaram sem querer e me pedem ajuda.

De acordo com a lei atual, o aborto é um crime no Brasil e só é permitido após um estupro, se a vida da mãe estiver em perigo ou se o feto tiver uma malformação grave. A cada cinco dias, uma mulher no Brasil morre de um aborto inseguro.

Como antropóloga e ativista, defendi durante anos o direito à autodeterminação reprodutiva. Recebi ameaças de morte por isso e fiquei sob proteção policial 24 horas por dia. Por isso emigrei para Nova York com meu marido em 2018.

Decidi manter contato com o Brasil nas mídias sociais. Quando recebo novas mensagens, sempre tomo cuidado porque há dois tipos de pessoas que entram em contato comigo. Aquelas que realmente precisam de ajuda e aqueles que querem me incriminar para ver se estou fazendo algo ilegal.

Com o passar dos anos, como um cão de caça, desenvolvi uma percepção de quando o perigo é iminente. Se eu achar que a mulher está dizendo a verdade, sempre sigo o mesmo protocolo: ofereço minha compaixão pela situação difícil e explico que o aborto é uma ofensa criminal no Brasil, punível com até três anos de prisão.

Ao mesmo tempo, entro em contato com minha colega Rebeca Mendes, uma das fundadoras do Projeto Vivas. Junto com outros ativistas, essa organização ajuda meninas e mulheres a terem acesso ao aborto legal no Brasil e no exterior.

Eu fico ativa no Instagram o dia todo, estou sempre acessível, publicando diariamente. Não falo sobre minha vida privada, mas sobre política, violência contra a mulher e aborto. Quero mostrar às mulheres que elas podem confiar em mim.

Em 2020, realizei um estudo nacional sobre abortos. Um dos resultados foi que uma em cada sete mulheres no Brasil fez um aborto ilegal, o que significa que milhões de mulheres deveriam ter sido condenadas todos os anos.

Uma ação judicial para descriminalizar o aborto no Brasil está atualmente no Supremo Tribunal Federal. Isso pode levar ainda muitos anos. Vou ficar no exterior até lá. Não quero me tornar um alvo novamente.”

Fonte: Das MagazinLink externo, 03.05.2024 (em alemão).

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Debate
Moderador: Patricia Islas

Quais são os desafios e ameaças à liberdade de imprensa em seu país?

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Publicaremos nossa próxima revista da imprensa suíça em 10 de maio. Enquanto isso, tenha um bom fim de semana e boa leitura!

Até a próxima semana!

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