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Jornalista do Chade luta por liberdade de imprensa

Steve McCurry/magnum

Ameaçado em sua terra natal, o jornalista chadiano Frank Kodbaye se refugiou na Suíça, onde continua lutando por uma imprensa independente, uma ferramenta necessária para acabar com a luta que minou seu país desde a independência.

“A guerra pelo controle do país já dura 50 anos”, diz Kodbaye sem rodeios. “É o que melhor sabemos fazer no Chade”.

O jornalista está em Genebra desde 2001. Mas em 1990, ele acreditava nas promessas de uma sociedade mais aberta do então líder rebelde Idriss Déby, que tinha acabado de derrubar o ditador Hissène Habré. Déby ainda está no poder no Chade.

“Todo mundo se lembra de seu primeiro discurso. Ele nos disse que não estava trazendo nem ouro nem prata, mas a liberdade”, explica Kodbaye.

Naquele ano, o presidente francês François Mitterand exortou as nações africanas a dar mais liberdade ao povo. Seu discurso, pronunciado logo após a queda dos regimes comunistas na Europa Oriental, era visto como um convite para iniciar reformas democráticas e o fim do apoio da França às ditaduras de seu antigo império colonial.

O discurso de Mitterand incentivou o aparecimento de novos meios de comunicação em vários países. O Ndjamena Hebdo, o primeiro jornal independente do Chade foi lançado poucos dias depois da derrubada de Habré, cujas vítimas ainda esperam seu julgamento.

Ilusões perdidas

Kodbaye, que estudou em um colégio católico na capital do Chade, começou como jornalista do jornal de sua escola, papel que veio a retomar mais tarde na universidade.

“N’Djamena Hebdo foi substituído pela revista Le Temps que me contratou em 1997. Era a publicação do país mais vendida na época, uma referência para qualquer jovem jornalista local”, disse à swissinfo.ch.

Foi trabalhando lá que Kodbaye perdeu todas as ilusões que ainda tinha sobre as promessas feitas por Déby, que serviu como comandante do exército de Habré antes de se virar contra ele.

“Este regime é particularmente brutal, especialmente contra os meios de comunicação. Jornalistas foram mortos ou jogados na prisão”, ressalta Kodbaye.

“Mesmo se os interesses do regime não são ameaçados, os meios de comunicação são regularmente processados por difamação e têm que pagar pesadas multas.”

Segundo o jornalista, o resultado é uma imprensa dócil e superficial, que se recusa a publicar reportagens mais sérias.

“O governo pode até dizer que a imprensa é livre, mas os jornalistas não investigam mais nada. E o Chade é considerado um dos países mais corruptos do planeta”, acrescenta.

Formação no exílio

Ao invés de seguir a linha, o jornalista decidiu deixar sua terra natal e acabou encontrando refúgio na Suíça com a ajuda da organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras e seu programa de ajuda para editores exilados.

“Fui preso várias vezes. Dada a pressão, a intimidação, resolvi arriscar deixar o país para poder continuar falando livremente”, explica.

O jornalista chadiano aproveitou, então, para fazer um curso no Instituto Internacional de Jornalismo de Berlim. Além do contato com um grande número de estudantes africanos da capital alemã, o curso lhe deu acesso a uma formação de alta qualidade técnica.

“Não é a cooperação política como os franceses oferecem visando garantir o acesso aos recursos. A Alemanha oferece uma ajuda preciosa e concreta para os países que lutam para formar seus futuros líderes”, ressalta Kodbaye

O jornalista também acusa a França de proteger o governo do Chade. Segundo ele, as tropas francesas estão presentes no país, e embora o presidente tenha publicamente exigido que se retirassem, ele sabe que sem elas seu regime poderia acabar caindo.

Cruzada online

Enquanto espera alguma mudança, Kodbaye está trabalhando em dois projetos na internet.

Um deles, Tchade Agora, é uma plataforma de troca de ideias e se concentra nas experiências positivas em sua terra natal. O outro, Carrefour-Soleil, é um site em língua francesa de notícias investigativas.

No entanto, a internet continua sendo um luxo para a maioria dos habitantes do Chade, uma maioria que não sabe nem ler e escrever e que depende do rádio para ter acesso às notícias.

Segundo Kodbaye, uma estação de rádio, a FM Liberté, desempenha um papel importante, abordando questões como direitos humanos, problemas agrícolas ou de saúde.

“A estação também ensina as pessoas a serem cidadãs e ajuda a unir a população do Chade, fornecendo-lhes referências comuns ao invés de destacar suas diferenças, especialmente aquelas relacionadas a tribos ou clãs”, acrescenta.

Essas tribos e clãs que sempre desempenharam um papel fundamental na consolidação do controle do governo do país.

“Para tomar o poder, você precisa de alianças tribais e de dividir a nação ao longo de linhas religiosas e culturais, opondo os habitantes uns contra os outros, os nortistas contra os sulistas, os muçulmanos contra os cristãos”, explica Kodbaye.

Um jogo perigoso como mostram os recentes acontecimentos no país vizinho Mali.

Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, a web tornou-se mais fragmentada. O acesso à informação é cada vez mais restrito, dependendo da localização geográfica.

Repórteres Sem Fronteiras criticou recentemente a decisão do Twitter de aplicar uma forma de censura localizada. Tweets em alguns países poderão ser bloqueados, mas não em outros, enquanto que anteriormente o bloqueio acontecia em um nível global.

Em uma carta ao fundador do site, a ONG declarou que a política do Twitter fez com que a liberdade de expressão pode ser agora interpretada de forma diferente de um país para outro, uma política que chamou de “inaceitável”.

A Birmânia montou sua própria estrutura nacional para a internet em 2010, uma ideia que o Irã também pretende seguir, criando seu próprio sistema de mensagens e motor de busca.

O resultado é que países como a Coreia do Norte, o Turquemenistão, o Uzbequistão, Cuba ou o Irã são tão eficazes na censura da internet que suas populações têm acesso a intranets locais que têm pouco a ver com a world wide web.

Relatório divulgado em 23 de abril pela Sociedade Interamericana de imprensa (SIP) indica que, nos últimos seis meses 27 casos de crimes e violências contra a imprensa, incluindo assassinatos, agressões e atentados. A SIP pede punição aos autores de homicídio e afirma que a morosidade da Justiça estimula a impunidade no Brasil.

No mesmo dia 23, o jornalista Décio Sá foi morto a tiros dentro de um restaurante em São Luís. Ele era repórter de política do jornal O Estado do Maranhão e também mantinha um blog de política.

Levantamento do “Commitee to Protect Journalists” (CPJ) divulgado em 17 de abril coloca o Brasil em 11° lugar no mundo em que os assassinatos de jornalistas ficam impunes. Conforme o “índice de impunidade” do CPJ, cinco assassinatos de jornalistas no Brasil nos últimos dez anos não resultaram em nenhuma condenação.

Adaptação: Fernando Hirschy

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