Por que você vota? Porque é engajado, porque é suíço(a), por ambas as razões, ou por nenhuma delas? Uma pesquisa focada nas eleições em um cantão suíço descobriu que os estrangeiros, mesmo quando têm o direito a voto, tendem a se envolver muito pouco na vida cívica.
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Irlandês, Domhnall trabalhou em pesquisa e redação em alguns países europeus antes de ingressar na swissinfo.ch, em 2017. Cobre democracia direta e política e geralmente passa seu tempo em Berna.
O estudo, conduzido por Amit Juillard, graduado da Universidade de Neuchâtel, aponta que os estrangeiros em certos municípios suíços não estão aproveitando dos seus direitos: quando têm direito a voto ou mesmo para se candidatar a funções públicas locais, eles não fazem nem um nem outro.
Juillard apresentou este ano um relatório de 150 páginas como parte de sua tese de mestrado, enfocando os estrangeiros no cantão de Neuchâtel. Ele pesquisou pessoas com o visto C (residência permanente) que vivem na Suíça há pelo menos cinco anos, e que possuem o direito de se envolver na política na esfera municipal desde 2007.
Contudo, e considerando que 17% da população cantonal possui esse visto, menos de 5% dos candidatos locais no período entre 2012 e 2016 eram cidadãos estrangeiros; o número de estrangeiros eleitos é menos de 4%.
Quando se candidataram para algum cargo público, os estrangeiros tinham 20% menos chances de serem eleitos, em comparação com seus concidadãos suíços.
As taxas de participação são também impressionantes. Nos cinco dias de votação de 2016 e 2017 – que incluíram uma mistura de eleições municipais e cantonais (onde os estrangeiros podem participar) e eleições federais (onde eles não podem) – a diferença foi enorme: a participação de estrangeiros chegou a uma média de 18%, enquanto que, entre os eleitores suíços, a participação foi de mais de 48%.
‘Cidadãos pela metade’
Em conversa com a swissinfo.ch, Juillard sugere cautela para não extrapolar esses dados para o resto do país, que em todo caso levaria a conclusões equivocadas: os direitos dos estrangeiros para votar e serem votados variam enormemente ao longo do país, sendo que Neuchâtel, nesse sentido, é um dos cantões mais abertos.
No entanto, as conclusões do estudo são úteis, segundo ele, como “a primeira pesquisa de fundo jamais feita” para um debate bastante recorrente na Suíça: ” será o conceito de cidadania intimamente ligado ao conceito de nacionalidade, ou seriam eles separáveis?”
Para o jornal Le Temps (Genebra), comentando as estatísticas de Juillard, “a convicção de que a naturalização é condição indispensável para a participação política continua sendo dominante na Suíça” – mesmo que 25% da população seja estrangeira.
Juillard também tocou no assunto quando menciona a ideia de “cidadãos pela metade”: estrangeiros, como esses de Neuchâtel, que possuem direitos de participação nas esferas locais, mas ainda nada em nível federal, ou nacional.
De acordo com as entrevistas que ele conduziu, isso pode algumas vezes levar à percepção de estarem sendo “tratados como crianças” – participando apenas em questões mais simples, e nada mais – e que pode ser um fator para a falta de motivação em se engajar.
O envolvimento
Outros fatores que possivelmente influenciam a participação política dos estrangeiros variam desde o domínio da língua, a complexidade dos temas sendo votados, e renda (“estudos demonstram que estrangeiros pertencem em geral a classes menos favorecidas social e economicamente, o que poderia explicar a fraca participação”).
Mas quando eles entram na política, não é nenhuma surpresa que a maioria dos estrangeiros se encontrem em partidos que defendem mais direitos para os imigrantes. Em Neuchâtel, uma média de 11.3% dos candidatos de esquerda são estrangeiros; à direita, esse número cai para 3,9%.
Adaptação: Eduardo Simantob
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