Centro-direita vence eleições
Após as eleições, a imprensa suíça destaca nesta manhã a derrota da direita populista (o SVP, Partido do Povo Suíço) e o crescimento dos pequenos partidos de centro.
Os editorialistas comentam agora a eleição de 14 de dezembro que pode renovar o governo federal após o atual reposicionamento de forças.
“A derrota de Blocher”, anuncia, não sem alguma alegria o popular Blick, da Suíça alemã. O SVP perde em porcentagens, além de perder 7 cadeiras no Câmara, “até mesmo no cantão de Zurique, onde Christoph Blocher havia começado um movimento que vem ganhando há décadas e que endureceu o clima político da Suíça”.
Um movimento, diz o tabloide, “onde se tem que dizer e pensar o que o líder, e patrocinador, Blocher pensa e quem pensa de forma diferente deve ficar calado”. Deste movimento, “o ‘povo’, tão conclamado pelo partido, começa agora a dizer basta”.
No mesmo tom, o Le Matin fala de “tapa” e vê o declínio do SVP como “um marco na história da Suíça”. “Apesar de enormes recursos financeiros e uma representação impressionante na mídia, o SVP foi incapaz de se impor e sua estratégia de conquista do Senado falhou miseravelmente.”
O tabloide da Suíça francesa observa “um possível cansaço dos suíços com um discurso de segurança monomaníaco” e o efeito de um “discurso economicamente suicida e anti bilateral”.
Para o 24 heures, de Lausanne, o SVP paga principalmente pela “falta de crédito no executivo e seu papel de oposição permanente”. O resultado mostra que as aspirações do país “começam a se desviar dos medos primários agitados pela direita nacionalista para se concentrar nos problemas reais do país em termos econômicos, sociais e ambientais”, acrescenta o Le Quotidien Jurassien, também da Suíça francesa.
Verdes perdem, centro-direita ganha
Se ninguém se atrela ao sucesso dos socialistas, única formação do governo a sair indene – vários comentários apontam a derrota inesperada de seus aliados verdes. Para o 24 heures, essa derrota mostra “que o meio ambiente já não é mais uma prerrogativa só do partido e que o efeito Fukushima se transformou em um efeito bumerangue”.
O jornal Le Temps estima que “a postura purista do partido não convence mais em um país que avança a pequenos passos”. Claramente, a maior parte do eleitorado preocupado com o meio ambiente preferiu os Verdes Liberais.
O Corriere del Ticino, da Suíça italiana, também ressalta a derrota dos Verdes, talvez culpados por terem “tomado posições extremas”. “A ecologia não é mais sua prerrogativa exclusiva”, diz o jornal que vê emergir das urnas “um parlamento menos polarizado”.
Foi realmente no centro-direita que as cartas foram redistribuídas, com o sucesso do Partido Verde Liberal e do Partido Burguês Democrático (PBD), resultante da dissidência da ala moderada do SVP que apoia a ministra Eveline Widmer-Schlumpf, excluída do partido em 2007 por ter aceitado sua eleição contra a de Christoph Blocher.
Para o La Tribune de Genève, o aumento dessas novas formações “explodiu o centro do espectro político”. Esse ganho de interesse pelo centro significa que “os suíços perderam a confiança nos partidos tradicionais”.
Assim, o centro-direita está crescendo “na soma de suas divisões”, observa o La Liberté, para quem essa fragmentação complica, sem dúvida, a busca por maiorias parlamentares. “Chegou a vez das acrobacias, com o povo como rede de segurança”, comenta o jornal de Friburgo.
Nova fórmula mágica
Para além dessas eleições, os jornais – especialmente os da Suíça alemã – estão olhando agora para o prazo de 14 de dezembro, data da eleição do Conselho Federal. O parlamento terá de redefinir um equilíbrio no governo que já não reflete a fórmula atual (dois socialistas, dois liberais-radicais, um democrata-cristão, uma PBD, e um SVP).
“A grande barganha pode começar”, clama o Le Matin, enquanto que o La Liberté prevê “um exercício de equilibrista”. A maioria dos editorialistas consideram a reivindicação do SVP por um segundo lugar (perdido em 2007) legítima, o partido continua sendo o primeiro do país. Mas cuidado, alerta o Tages Anzeiger, de Zurique, é preciso apresentar “um candidato de concordância, não um criador de problemas”.
Para o Basler Zeitung, de Basielia, e para o Berner Zeitung, da capital Berna, o ideal seria dois lugares para os socialistas, dois para o SVP e três para o centro-direita. Qualquer outra equação “só será barganha e poderá ter consequências desastrosas”, completa o jornal de Basileia.
O Neue Zürcher Zeitung também faz o mesmo cálculo. Para o NZZ, os partidos situados no centro têm direito, “segundo a aritmética de concordância”, a três cadeiras. Mas o diário de Zurique considera que o PBD, “apesar de seu sucesso de estima, pesa muito pouco para governar”, lembrando que, em geral, “as exigências dos partidos são maiores do que o número de vagas no governo”.
Uma pane de sistema no cantão de Vaud (oeste) adiou a apuração dos resultados, incluindo os números nacionais, que são ainda uma projeção.
SVP. Com 25,9%, a direita populista está longe da meta dos 30% lançada pelos líderes do partido. Continua sendo o maior partido, com 55 cadeiras na Câmara dos Deputados, 7 a menos que em 2007. Este declínio é a primeira freada em seu progresso desde 1991.
Centro-direita, reforçado mas fragmentado. PVL e PBD conseguiram, juntos, 21 cadeiras, com mais de 10% dos votos. O Partido Democrata Cristão continua caindo, perdendo três vagas, de um total de 28. Considerado como grande perdedor, o Partido Liberal-Radical deixa apenas cinco assentos para segurar 30.
Esquerda. O Partido Socialista permanece estável com 44 vagas (+1), e 17,6% dos votos. Os Verdes perdem até sete eleitos e não têm mais do que 13 para uma força eleitoral reduzida aos 8% (9,6% quatro anos atrás).
Senado. A situação está longe de ser definitiva. Apenas 27 das 46 vagas foram ocupadas. Os 19 lugares restantes dependerão de um segundo turno que se estenderá até 4 de dezembro.
Adaptação: Fernando Hirschy
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