Lançada “Iniciativa de Genebra”
Personalidades israelenses e palestinas lançam em Genebra uma iniciativa pela paz no Oriente Médio. Ex-presidente americano Jimmy Carter estava presente..
A assinatura simbólica do acordo marca o início de uma campanha mundial pela paz entre Israel e Palestina.
A cerimônia de lançamento da Iniciativa de Genebra para a paz no Oriente Médio foi aberta oficialmente pelo ator americano Richard Dreyfuss e contou com a presença de 800 personalidades, dentre elas ex-chefes de Estado e 400 convidados vindos especialmente de Israel e dos territórios palestinos.
Além de Micheline Calmy-Rey, ministra das Relações Exteriores, discursaram durante o evento o ex-presidente americano Jimmy Carter, o ex-presidente polonês Lech Walesa, o prêmio Nobel da paz Jonathan Hume, o conselheiro do rei do Marrocos André Azoulay e Ousama Al-Baz, principal conselheiro político do presidente do Egito, Hosni Moubarak.
Também o ex-presidente da África do Sul, Nélson Mandela, enviou uma mensagem por vídeo desejando sucesso à proposta de paz entre Israel e Palestina.
“Através dessa iniciativa nós mostramos à população e a comunidade internacional que a paz é possível”, afirma Ghaith Al Morai, um dos representantes da delegação palestina.
A Iniciativa de Genebra foi assinada em 12 de outubro na Jordânia, após dois anos de negociações secretas coordenadas pelo antigo ministro israelense da Justiça Jossi Beilin e pelo antigo ministro palestino da Informação Jassir Abed Rabbo.
Um desafio internacional
Para as delegações palestina e israelense presentes na cerimônia de lançamento da Iniciativa de Genebra tem um caráter simbólico e visa obter o apoio de parcelas maiores da opinião pública.
A Iniciativa de Genebra prevê a divisão de Jerusalém e a criação de um Estado palestino. Ela inclui também pontos críticos como o retorno dos refugiados palestinos e a remoção da maioria das colônias judaicas nos territórios ocupados.
“Nossa mensagem é mostrar que o conflito tem uma solução”, ressalta Daniel Levy, membro da delegação israelense.
Apoio escasso na população e nos governos
Durante as duas últimas semanas o texto de 50 páginas do documento foi enviado por correio a todos os domicílios israelenses e publicado em grande parte dos jornais palestinos.
De acordo com os resultados publicados hoje de uma pesquisa de opinião encomendada pelo jornal “Haaretz”, 31% dos israelenses vêem a Iniciativa de Genebra como uma solução ideal para o conflito e 38% condenam. Ao mesmo tempo, um entre cinco israelenses não tem uma opinião formada sobre o tema. Um entre dez israelenses nunca ouviu falar sobre a Iniciativa.
Arafat e os israelenses
Representantes do governo israelense pronunciaram-se contra a Iniciativa de Genebra. “O Roteiro para a Paz é a única base para as negociações com os palestinos”, afirmou em entrevista Shaoul Mofaz, ministro da Defesa de Israel.
O “Roteiro para a Paz” é o plano de paz internacional elaborado pelos EUA, União Européia, Rússia e a ONU e prevê a criação de um Estado palestino até 2005. Ela não regulamenta, porém, todos os problemas entre as duas partes. Esse documento foi aprovado pela Autoridade palestina e aceito, com reservas, pelo governo israelense.
Tanto o governo suíço como os grupos de negociação da Iniciativa ressaltam que a proposta não é uma alternativa para o chamado “Road Map”. O “Roteiro para a Paz” é considerado pela maioria como o único plano oficial de paz. “Nós o apoiamos e evitamos com todas as forças de prejudicá-lo”, afirma Ghaith Al Morai, representante da delegação palestina.
Na opinião do palestino, o presidente da Autoridade Nacional Palestina Yasser Arafat apóia a proposta de paz lançada na Suíça. “Porém nós não esperamos que Arafat apóie oficialmente a Iniciativa de Genebra, sem que os israelenses dêem também um sinal positivo nesse sentido”.
“Caso, porém, o governo de Israel mostre vontade de apoiar esse tipo de proposta, nós podemos imaginar que OLP e Arafat também tomem uma posição concreta sobre o tema”.
O papel da Suíça
Durante uma coletiva de imprensa, realizada há uma semana em Genebra, palestinos e israelenses que participam da elaboração da Iniciativa agradeceram o governo suíço pelo apoio dado às negociações.
Representantes do Ministério das Relações Exteriores suíço afirmam que o apoio dado pelo país é apenas logístico, sem intenções de influenciar na elaboração do conteúdo da Iniciativa.
“Nosso trabalho está dentro do programa de apoio a projetos de desenvolvimento da sociedade civil”, explica Paul Fivat, chefe da seção África/Oriente Médio no Ministério das Relações Exteriores.
O “Centro de Diálogo Humanitário de Genebra”, uma organização neutra de intermediação para a paz, foi encarregada pelo governo de apoiar financeiramente a Iniciativa.
Carta de apoio
Paralelamente à cerimônia em Genebra, cinqüenta e oito presidentes, primeiros-ministros e ministros assinaram uma carta de apoio à Iniciativa de Genebra.
Dentre eles se encontram o ex-secretário geral da ONU, Boutros Boutros-Ghali, o ex-presidente da Finândia Martti Ahtisaari, o ex-presidente da União Soviética Mikhail Gorbatchev, o ex-presidente da Comissão Européia Jacques Delors e o ex-presidente da Cruz Vermelha Internacional Cornélio Sommaruga.
Robert Malley, ex-assessor para assuntos do Oriente Médio no governo Bill Clinton e diretor do grupo “International Crisis Group” apresentou oficialmente a carta para a imprensa e o apelo feito pelas 58 personalidades à comunidade internacional.
Eles solicitam no texto o apoio dos Estados Unidos, União Européia, Rússia, ONU e aos membros da Liga árabe para a Iniciativa de Genebra e a petição lançada em Israel por Ami Ayalon e Sari Nusseibeh.
“Nós acreditamos que a melhor maneira de avançar no conflito entre árabes e israelenses é de abordar o início, e não o fim, dos princípios de base de uma solução durável”, explica o texto da carta assinada. “
swissinfo e agências
adaptação de Alexander Thoele
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