Leopardo de Ouro vai para a China
Pela segunda vez, um filme chinês - "Han Jia" (Férias de inverno) de Li Hongqi, ganha o principal prêmio em Locarno.
No encerramento da 63° edição do mais importante festival de cinema da Suíça, a crítica está globalmente satisfeita com a primeira programação de Olivier Père.
O Leopardo de Ouro dessa primeira edição organizada pelo novo diretor artístico surpreendeu a maioria dos críticos. Estes avaliam que a seleção de 2010 ofereceu uma boa diversidade de gêneros, mesmo se o nível do concurso, com exceções notáveis, não chegou à perfeição.
“Han Jia” é a historia de quatro adolescentes que se encontram na casa de Zhou Zhixin com outro garoto, que vive com o pai, irmão e um sobrinho na mesma casa. Os amigos aproveitam do ultimo dia de férias para passear na cidade, onde nunca parece ocorrer algo. Eles “matam” o tempo falando de tudo um pouco. Um dos personagens, Laowu, discute com sua amiga para saber se o amor pode interferir nos resultados escolares. Do seu lado, Laobao questiona o valor da educação escolar na vida real.
Ecletismo, as flechas e o alvo
O que dizer da primeira edição assinada pelo diretor artístico Olivier Père? Quando o festival estava para terminar, swissinfo.ch solicitou um primeiro balanço a dois críticos e frequentadores habituais do festival: Antonio Mariotti (jornal Corriere del Ticino) e Mariano Morace, da Sociedade de Radio e Televisão da Suíça Italiana (RSI). A avaliação dos dois coincide. Eles também dão a mesma nota a Olivier Père.
“Creio que Olivier Père lançou flechas”, declara o primeiro. “Nem todas elas atingiram o alvo, mas o que é certo é que ele conseguiu oferecer todos os tipos de sensações aos espectadores, tratando também de temas delicados como a violência, a homossexualidade, o sexo, a pornografia ou o mal-estar dos jovens.”
“De outro lado”, continua o crítico, “era a sua primeira edição e, por isso, não podíamos esperar uma programação perfeita até nos mínimos detalhes.”
Já Mariano Morace estima que as promessas de abertura do festival foram cumpridas. “Direi que o balanço é positivo, somando tudo. O que mais me seduziu foi o ecletismo dos filmes propostos. Nem todos eles me agradaram, mas nenhum festival consegue ser unânime”, avalia.
Três propostas que não agradaram
Para Morace o concurso internacional exibiu, pelo menos, quatro ou cinco filmes de uma qualidade superior à media. “É um excelente resultado”, ressalta. “Obviamente havia filmes que eu não teria selecionado e foram os que mais provocaram polemica: “L.A Zombie”, “Bas-Fonds” e “Homme au bain”.
Essa opinião é compartilhada por Antonio Mariotti, para quem essas obras foram vistas “como a pior das que foram propostas devido à pobreza narrativa e cinematográfica.”
“Dá para compreender o desejo de oferecer um leque o mais largo possível”, julga Mariano Morace. “Esse tipo de filme, que tenta provocar através da pornografia, não interessa os críticos presentes em Locarno.”
“Mas não devemos nos focalizar nesses três filmes, pois existem coisas piores do gênero”, apoia Morace. “Dessa forma, ‘Bas-Fonds’ não me agradou e eu o considero mal feito. Mas sem cair no mórbido, ele trata de um assunto muito importante: da violência.”
A força das mulheres e “Beli beli svet”
“Dentre os 18 filmes em competição, um terço teve grande interesse por parte do publico”, afirma Antonio Mariotti. “E curiosamente eles mostram frequentemente personagens femininos de forte caráter, confrontados à criminalidade, prisão, marginalidade ou marginalização. Essas mulheres conduzem uma luta muitas vezes desesperada à procura de uma vida digna, ou pelo menos feliz.”
A dimensão feminina se mistura ao discurso sobre os países da Ásia, que oferecem um terreno fértil em histórias. Atormentados por conflitos e guerras, os personagens são muitas vezes heroínas desafortunadas e que vivem em uma sociedade, em luta cotidiana para sobreviver.
“Pode ser uma coincidência, mas os protagonistas dos melhores filmes são mulheres”, acredita Antonio Mariotti. Seu preferido é o filme sérvio “Beli beli svet”. Uma obra que emociona, na qual a história tem uma base clássica como uma tragédia grega. Ela introduz a música e o canto como expressão da alma de um país, o que ajuda bastante o espectador a entrar na sua atmosfera.
“Esse filme fala de uma realidade, onde os ferimentos da guerra estão ainda abertos e de uma sociedade, onde faltam gerações inteiras de homens. A consequência é que as mulheres acabam tendo de assumir essas responsabilidades.”
O Leopardo de ouro não passou despercebido
Essa é uma opinião compartilhada por Mariano Morace, que também considerou o filme do diretor Oleg Novkovi, de Belgrado, o mais interessante da mostra. Em sua opinião, ele evoca uma geração perdida.
Já os outros filmes que lhe agradaram, o crítico indica ainda “Pietro”, do diretor italiano Daniele Gaglianone, além de “Morgen” e “Periferic”, dois filmes romenos.
Ele igualmente apreciou “Han Jia”: “Mesmo se o ritmo imposto é um pouco difícil (durante uma hora e meia não acontece praticamente nada no filme), as relações entre os adolescentes são descritas de forma bastante hábil. Os diálogos são curtos, mas em alguns momentos, e algumas figuras como a do irmão caçula de um dos protagonistas, eles são também cheios de humor e de forca.”
Olivier Père “pode fazer melhor”
Se alguns filmes tiveram o sucesso de costurar de maneira interessante o fio da narração com suas imagens e conteúdos, não há nada de novo no que diz respeito à técnica cinematográfica. Nossos dois comentaristas acreditam que há uma volta às técnicas clássicas.
Para retornar à Piazza Grande (a principal praça de Locarno e local de exibição dos filmes populares fora de competição), seu publico é bastante difícil, pois é muito heterogêneo, uma avaliação é compartilhada pelos dois críticos.
“Penso que Olivier Père escolheu filmes de gênero, thrillers, comédias, ficção cientifica e outros”, diz o crítico do Corriere del Ticino. “Porem na Piazza não vimos nenhuma grande obra, o que me faz considerar que a seleção era um pouco fraca, apesar de não ter sido inferior a do ano passado.”
Mariano Morace é um pouco menos severo: “Apesar de alguns esforços concretos, o nível na Piazza Grande foi inferior ao que esperava. Mas com circunstâncias atenuantes, levando-se em conta o grande número de festivais cinematográficos. Em Locarno, todos queriam ver na Piazza filmes que o festival nunca poderia ter obtido. É preciso compreender que a produção cinematográfica diminuiu em relação ao passado. Porem Père pode fazer melhor.”
E a nota final de um a dez para o diretor artístico? Nossos dois críticos dão a mesma nota: entre 7 e 7,5. Conclusão: ele pode realmente fazer melhor.
Françoise Gehring, Locarno, swissinfo.ch
(Adaptação: Alexander Thoele)
A 63° edição do Festival Internacional de Cinema de Locarno exibiu 290 filmes.
Concurso internacional:
Leopardo de Ouro: Han Jia (Férias de inverno) de Li Hongqi, China.
Prêmio especial do júri: Morgen de Marian Crisan, Romênia/França/Hungria.
Prêmio de melhor direção: Curling de Denis Côté, Canadá.
Leopardo de melhor atriz: Jasna Duricic, no filme Beli beli svet de Oleg Novkovic, Servia.
Leopardo de melhor ator: Emmanuel Bilodeau em Curling de Denis Côté, Canadá.
Cineastas do presente:
Leopardo de Ouro: Paraboles de Emmanuelle Demoris, França.
Prêmio especial do júri: Foreign Parts de Verena Paravel e JP Sniadecki, EUA/França.
Melhor filme: Foreign Parts de Verena Paravel e JP Sniadecki, EUA/França.
O Prêmio do publico foi para The Human Resources manager, de Eran Rikilis, Israel/Alemanha/França.
Poeta e escritor, ele nasceu na província chinesa de Shandong em 1976 e se diplomou na Academia de Belas-Artes da China central. (1999).
Suas publicações mais importantes são Lin Chuang Jing Yan (Cure, recueil de poésie) e os romances épicos Xing Yun’er (Homem feliz) e Shi Bu Wan (Odores).
Seu 1° longa metragem: Hao duo da mi (Tant de riz, 2005) ganhou o Premio NETPAC do 58° Festival de Cinema de Locarno.
Seu 2° filme, Huangjin zhou (Férias de rotina, 2008) foi nomeado para FIPRESCI Critics Award do 52° Festival de Cinema de Londres.
Han jia (Ferias de inverno) é seu 3° filme.
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