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O jogador que sonha ser presidente da República

George Weah recebeu seu diploma de "FIFA Master" aos 29 anos em Neuchâtel. swissinfo.ch

George Weah esteve dias atrás em Neuchâtel (oeste da Suíça) para entregar os diplomas de master especializado em esporte a 29 estudantes.

Na entrevista a seguir, a antiga estrela do futebol comenta a Copa do Mundo na África do Sul e confirma sua candidatura às próximas eleições presidenciais da Libéria, em 2011.

Em pleno verão europeu, ao lado de representantes do mundo acadêmico, da Fifa ou ainda do suíço Denis Oswald, membro do comitê executivo do COI, está George Weah, vindo especialmente da Flórida, onde reside.

Verdadeira legenda do futebol na África, juntamente com o senegalês Roger Milla, George Weah veio à Universidade de Neuchâtel (oeste) para a cerimônia de entrega dos diplomas do “Fifa Master” (pós-graduação de um ano em administração, direito e ciências humanas do esporte) a 29 formandos de 23 países.

Em entrevista à swissinfo.ch, ele avalia a Copa do Mundo na África do Sul, mas também fala de sua intenção de se candidatar novamente às eleições presidenciais na Libéria, em 2011.

swissinfo.ch: George Weah, por que você aceitou ser paraninfo dessa 10a turma do “FIFA – Master”?

George Weah: É uma grande honra para mim ter sido convidado para vir a Neuchâtel. É primordial dar uma formação de alta qualidade a esses futuros dirigentes do esporte. Eles deverão agora aplicar o que aprenderam em suas carreiras profissionais. O esporte é o vetor de união mais poderoso do mundo, ultrapassando as diferenças sociais, econômicas e políticas. Esses futuros dirigentes são a garantia de que essa missão deve perdurar.

swissinfo.ch: Você foi embaixador na Copa do Mundo na África do Sul. Como viveu esse evento?

G.W.:A África do Sul organizou maravilhosamente essa Copa do Mundo. É uma vitória e um orgulho para todo o continente. Muitos riram quando a Fifa escolheu esse país. Eles não tinham razão. Durante um mês, o país mostrou-se unido e a segurança dos visitantes foi garantida. Pessoalmente, gostaria de agradecer a Sepp Blatter, que apoiou a África, mesmo quando as críticas eram severas.

swissinfo.ch: Que herança essa Copa vai deixar para a África do Sul e para o continente africano?

G.W.: Muitas coisas. A infraestrutura, empregos, mas sobretudo um espírito empreendedor que vai subsistir. A África do Sul foi pioneira e mostrou o caminho a seguir a outros países do continente.

swissinfo.ch: À exceção de Gana, que chegou às quartas de final, as seleções africanas foram eliminadas no primeiro turno da competição. Como explicar um tal fracasso?

G.W.:Vários fatores explicam esse fraco desempenho. As equipes africanas não estavam preparadas para a competição. Certas federações mudaram de treinador três semanas antes do Mundial. Não podemos esperar milagres nessas condições. Além disso, vimos que as equipes que brilharam nessa Copa são as que praticavam um jogo ofensivo. Para ganhar, é preciso marcar gols. Espero que um dia os africanos compreendam isso. O futebol não é apenas uma ciência tática e os africanos têm de jogar com suas qualidades: força e velocidade.

swissinfo.ch: Quase todos os jogadores africanos estão no futebol europeu. Isso é bom para o futebol africano?

G.W.: É importante que jogadores africanos possam evoluir em clubes profissionais na Europa. Isso abre belas oportunidades e eu próprio pude aproveitar. Mas muitos treinadores se esquecem de formar a base. Os técnicos das seleções nacionais, no cargo geralmente por pouco tempo, contam unicamente com os jogadores que estão na Europa. Seria bom confiar também nos jogadores locais, dotá-los de uma técnica melhor, melhorar o nível para as grandes competições. Só depois é que deveriam reforçar a equipe com jogadores dos clubes europeus. Isso daria maior coesão e uma unidade maior às seleções nacionais africanas.

swissinfo.ch: Depois do futebol, você decidiu entrar em política. Por que?

G.W.: Foram os liberianos que me pediram para ir ajudá-los. Gosto do meu país e gostaria muito de servi-lo. Quando das presidenciais de 2005, perdemos por pouco, mas nosso partido, o Congresso Pela Mudança Democrática (CDC), é o mais popular na Libéria. Serei novamente candidato em 2011, porque muita gente precisa de nós. Espero que um dia tenhamos a oportunidade de mudar nosso país.

swissinfo.ch: Em 2005, seus adversários o acusaram de amadorismo. Um jogador de futebol pode realmente ser chefe de Estado?

G.W.: São slogans de campanha política. Basta ver o que acontece em Neuchâtel. Esses diplomados vão dirigir grandes instituições esportivas internacionais. No início, são grandes amantes do esporte. Se ambicionarem um dia ser presidentes de seu país, serão proibidos sob pretexto de terem sido esportistas antes? E o que vão dizer a Michel Platini, antiga estrela do futebol hoje presidente da Uefa?

swissinfo.ch: A Libéria acaba de obter um importante reescalonamento das dívidas. Não é um sinal de que as reformas avançam e que o governo de Ellen Johnson Sirleaf faz um bom trabalho?

G.W.: Hoje na Libéria a corrupção é onipresente, a população não tem trabalho e a pobreza continua muito grande. Não podemos dizer que as coisas avançam. É certo que fizemos um passo na boa direção porque, depois de 15 anos de guerra civil, agora vivemos em paz.

Mas a paz só existe porque responde ao desejo da oposição. Nos dois turnos da eleição presidencial de 2005, nossos adversários fraudaram para chegar ao poder. Apesar disso, decidimos não contestar os resultados para não comprometer a paz frágil. Espero que consigamos todos juntos construir um Estado democrático e fazer nosso país avançar.

Samuel Jaberg, Neuchâtel, swissinfo.ch
(Adaptação : Claudinê Gonçalves)

Nasceu em 1° de outubro de1966 na Libéria e tem passaporte liberiano, francês e americano. Mora atualmente na Flórida.

Jogou no AS Mônaco, Paris Sait-Germain, Milan AC, Chelsea, Manchester City e Marselha. Encerrou a carreira de jogador em 2003. Foi campeão francês com o PSG em 1994 e italiano com o Milan AC em 1995.
Ganhou três vezes a Bola de Ouro Africana (1989, 1994 e 1995). Em 1995, foi o primeiro a até agora único jogador africano a ganhar a Bola de Ouro da Fifa.

Em 2005, entra em política e é candidato à eleição presidencial liberiana pelo partido Congresso Pela Mudança Democrática (CDC). Ficou em primeiro lugar no primeiro turno e perdeu no segundo para sua principal adversária, a economista Ellen Johnson-Sirleaf, primeira mulher chefe de um Estado africano.

Desde 1997, George Weah é embaixador do UNICEF, Fundo das Nações Unidas para a Infância. Ele dirige uma fundação em favor das crianças liberianas.

Pluridisciplinar. Criado em 2000 conjuntamente pela FIFA e pelo CIES (Centro Internacional de Estudos do Esporte) em Neuchâtel (oeste), o “FIFA Master” é uma pós graduação (MAS) dedicada ao esporte. Tem disciplinas de administração, direito e ciências humanas.

Sucesso. Mais de 250 estudantes de 70 países já fizeram o curso universitário de um ano, dado em três universidades: De Montfort (Leicester, Inglaterra), Bocconi (Milão, Itália) e Neuchâtel. Mais de 200 candidaturas são analisados por ano para 25 vagas.

CIES. Criado em 1995, o Centro Internacional de Estudos do Esporte de Neuchâtel é uma parceria entre a Fifa, a Universidade de Neuchâtel, a prefeitura e o cantão de Neuchâtel. Sua missão é pesquisa, formação e consultoria a serviço do esporte.

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