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ONG mostra cartão amarelo ao presidente da Fifa

Entrega da petição na sede da Fifa: 13.715 cartões amarelos para Sepp Blatter. Keystone

Uma petição da organização Socorro Operário Suíço (SOS) pede à Fifa que cobre o respeito aos direitos humanos e garanta melhores condições de trabalho em futuras Copas do Mundo.

Os autores do documento entregue na terça-feira (8/6) na sede da Fifa, em Zurique, esperam que a entidade máxima do futebol aplique no Brasil em 2014 as lições dos preparativos ao Mundial na África do Sul.

A campanha “Cartão Amarelo para Sepp Blatter” foi iniciada em meados de abril e recolheu 13.715 assinaturas. “Foi um sucesso. A repercussão na mídia também foi excelente”, disse Ruth Daellenbach, diretora-executiva da SOS, à swissinfo.ch.

O governo da África do Sul investiu cerca de 5 bilhões de francos em infraestrutura e nos dez estádios para a Copa do Mundo. As obras deram um novo impulso à construção civil do país.

O objetivo da campanha da SOS era mostrar “o outro lado da Copa”.”Operários tiveram de trabalhar sob más condições, sem seguro social, sem assistência médica”, denunciou a sindicalista sul-africana Crecentia Mofokeng, no lançamento da campanha.

Com a petição, a ONG quer que a Fifa obrigue países-sedes, empresas licenciadas e patrocinadores de futuros campeonatos mundiais de futebol a respeitar os direitos trabalhistas básicos, bem como os direitos humanos.

“A Fifa consegue regulamentar todos os detalhes num país-sede da Copa. Portanto, também tem poder para influenciar as condições de trabalho nos canteiros de obras”, disse Marco Kistler, da SOS, à swissinfo.ch.

Segundo a ONG, na África do Sul, “os salários pagos nos canteiros de obras da Copa não garantiam o mínimo necessário à subsistência (650 francos por mês) e bairros pobres foram removidos para dar lugar a obras de infraestrutura. Isso não deve se repetir”.

Lições para o Brasil

Kistler disse que as reivindicações da ONG suíça ganham novo peso diante do fato de o Brasil, “um país com problemas semelhantes aos da África do Sul”, sediar o Mundial de 2014.

“Países e empresas que desrespeitam os direitos humanos e exploram trabalhadores não devem poder sediar a Copa do Mundo no futuro”, afirma a ONG em um comunicado. A Fifa deve contribuir para melhorar as condições de vida, acrescenta.

Segundo Ruth Daellenbach, na África do Sul “foi desperdiçada uma chance para um verdadeiro desenvolvimento para os pobres. Com o cartão amarelo ao senhor Blatter, pedimos que a Fifa nos futuros Mundiais coloque as pessoas e seus direitos no centro das atenções”.

“Esperamos que, no Brasil, a Fifa inclua nos contratos com as cidades-sedes da Copa 2014 cláusulas que exijam o respeito aos direitos humanos e garantam condições humanas de trabalho aos operários”, disse Klister.

Fifa aponta engajamento social

Em 11 de maio de 2008, uma delegação de sindicalistas sul-africanos havia entregue um memorando a Sepp Blatter. “Operários da construção frequentemente trabalham em condições subumanas na África do Sul”, descreveu então Crosby Moni, vice-presidente do maior sindicato da construção civil de seu país.

Blatter prometeu se empenhar pelas reivindicações dos sindicalistas junto ao governo sul-africano e aos organizadores locais da Copa. Graças a 26 greves, foi possível conquistar algumas melhorias, disse Crecentia Mofokeng.

A petição “Cartão Amarelo para Blatter”, que para a África do Sul chega tarde, foi entregue ao departamento de mídia da Fifa. Contado pela swissinfo.ch, o órgão respondeu que “todo o executivo da Fifa se encontra na África do Sul e, por isso, hoje não haverá uma posição oficial sobre a petição”.

“O senhor conhece nossos diversos programas e iniciativas que têm por objetivo fazer com que a Copa 2010 tenha tanto quanto possível efeitos positivos sustentáveis”, respondeu o departamento de mídia da Fifa por email.

A Fifa tem destacado especialmente seu engajamento social, por exemplo, através da campanha “20 Centros para 2010”, que envolve a criação de 20 centros do projeto Football for Hope, destinados a promover a saúde pública, a educação e o futebol em comunidades carentes em toda a África.

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch

Segundo a agência alemã de notícias esportivas SID, a Fifa estima os custos da Copa 2010 em 1,2 bilhão de euros, dos quais cerca de 800 milhões de euros foram cobertos pela entidade máxima do futebol mundial. Sem contar 110 milhões de francos de ajuda concedidos na fase final dos preparativos ao Comitê Organizador do Mundial na África do Sul.

A generosidade da Fifa é relativa, considerando-se que ela prevê receitas de 2,6 bilhões de euros. Só a venda dos direitos de transmissão dos jogos pela televisão rendem 1,6 bilhão de euros à organização.

A África do Sul investiu cerca de 28 bilhões de euros em obras relacionadas ao evento, entre elas, a ampliação das redes rodoviária e ferroviária – uma infraestrutura que beneficiará a população também depois do Mundial.

O governo em Pretória prevê um aumento de 2,4 bilhões de euros da arrecadação de impostos graças à organização da Copa e diz que o megavento gerou 415 mil novos empregos.

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