A Suíça é muito chata?
A idílica tranquilidade da Suíça chega às manchetes na Argentina, um país onde a população sonha com as condições de vida dos suíços.
Tudo começou com uma frase infeliz da ministra da segurança argentina, Sabina Frederic. Em uma entrevista, a representante do governo precisava se justificar depois de um assalto na Grande Buenos Aires, em que morreram duas pessoas – o ladrão de 19 anos e um aposentado de 69. A criminalidade, que avança, e as condições precárias dos presídios do país voltaram com força às manchetes da Argentina.
Em 30 de agosto, um jornalista da rádio Mitre perguntou a Sabina Frederic se a opção para viver sem medo era a de emigrar. A resposta foi: “Não. […] Bem, a Suíça certamente poderia ser mais calma”. E aí a ministra acrescentou com uma risada: “Mas também é mais chata”.
Como diz o provérbio, “foi a palha que quebrou as costas do camelo”. As declarações da ministra desencadearam uma onda de críticas. Alguns até exigiram sua renúncia. A polêmica atingiu dimensões nacionais. E sem querer, a Suíça se tornou o centro do debate.
O embaixador suíço na Argentina, Heinrich Schellenberg, acrescentou mais tempero ao debate. O diplomata postou no Twitter um vídeo promocional de turismo na Suíça em que o astro do tênis Roger Federer aparece com o ator americano Robert de Niro. “O entediante Federer”, escreveu o embaixador. A mensagem do vídeo era: A Suíça não é empolgante o suficiente para um mestre do cinema de ação como Roberto de Niro, ou seja, é ideal para umas férias sem drama.
El "aburrido" de Federer pic.twitter.com/aJUnheG1d3Link externo
— Embajador Heinrich Schellenberg (@SwissAmbArg) August 30, 2021Link externo
A resposta bem humorada do representante de um país ‘tão chato’ fez sucesso na Argentina. O post do embaixador viralizou e foi notícia nos meios de comunicação. Um dos vários comentários dizia: “Bravo, Embaixador! Muitos argentinos amariam a “falta de drama” da Suíça. Nós teríamos trabalho, tudo funcionaria, nos respeitaríamos, todos poderiam estudar, ter os melhores meios de transporte. Gostaríamos de tudo isso da Suíça”.
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Após as lamentáveis declarações da Ministra da Segurança, a mídia entrevistou cidadãos argentinos residentes na Suíça. Questionada pelo La NaciónLink externo sobre o que significa para ela estar entediada, Micaela López Nesci, uma jovem argentina que mora em Neuchâtel, respondeu. “É divertido para mim poder encontrar um amigo e contar como ele passou suas férias, não como um parente foi roubado na semana passada. Se isso é chato, prefiro o tédio”. E ela ressaltou: “Viver com segurança é realmente viver.”
E em um artigo de opinião intitulado “Como seria divertido morar em um país chato” e publicado no ClarínLink externo, o jornalista Pablo Vaca compara Suíça e Argentina.
PIB per capita: $ 86.000 na Suíça contra $ 8.400 na Argentina
Inflação: 0,7% na Suíça, 51% na Argentina
Mortes por COVID por milhão de habitantes: 1.246 na Suíça e 2.472 na Argentina
Desemprego juvenil: 3,5% na Suíça e 30% na Argentina.
Taxa de homicídio: 0,59 por 100.000 habitantes na Suíça, 5,36 por 100.000 habitantes na Argentina.
O jornalista também fala sobre a democracia direta na Suíça: “Este ano, por exemplo, eles já votaram em março sobre a proibição de cobrir completamente o rosto e sobre um acordo de comércio com a Indonésia; em junho aprovaram uma lei contra o terrorismo e rejeitaram uma redução de emissão de gases de efeito estufa; em setembro vão às urnas por uma lei para casamento igualitário de 2020. Não parece chato”.
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No entanto, deve-se notar que a cidadania na Suíça também não é necessariamente uma sensação de segurança. De acordo com o Índice Global de Paz 2020, a Suíça é o décimo país mais seguro do mundo, mas isso não parece tranquilizar a população. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique (ZHAW) em 2018 revela que 61% dos entrevistados acreditam que o crime na Suíça aumentou nos últimos dez anos. E 68% acreditam que a população estrangeira comete cada vez mais crimes. No entanto, o estudo dos pesquisadores de Zurique também mostra que esses medos têm pouco ou nada a ver com a experiência pessoal.
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A criminalidade em um dos países mais seguros do mundo
Adaptação: Clarissa Levy
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