Elas cheiram a cebola, eles a queijo
A conclusão é de um estudo da equipe dirigida pelo suíço Christian Starkemann, pesquisador na empresa Firmenich de Genebra, produtora de fragrâncias e sabores. A pesquisa foi publicada na revista New Scientist.
Foram analisadas várias amostras de suor de 24 homens e 25 mulheres, depois de passarem 15 minutos em uma sauna e realizarem exercícios em bicicleta durante outros 15 minutos.
Foi assim que se chegou à conclusão de que, enquanto os homens cheiram a queijo, as mulheres têm um aroma mais parecido com cebola e uva.
“A finalidade da análise do cheio corporal é ajudar a entender melhor como se formam os odores desagradáveis para poder criar desodorantes mais eficazes”, afirma Starkenmann à swissinfo.
Antes da experiência, os voluntários tiveram que se lavar e não usar desodorante ou perfume para não modificar os resultados da pesquisa.
“Este projeto vem se desenvolvendo há muito tempo em nossos laboratórios. Givaudan é outra empresa suíça muito ativa no setor e foi ela que descobriu o precursor do ácido (aroma de queijo)”, comenta o cientista da área de otorrinolaringologia.
400 horas de esporte
O grande passo na pesquisa foi dado quando a direção da Firmenich decidiu construir uma sala de esportes para seus funcionários.
Assim foi possível recolher 3.287 ml de suor masculino e 307 ml de feminino, entre 2004 e 2007. “Isso representa quase 400 horas de esporte e de sauna. Desde 2007 estocamos cada amostra de forma separada.”
Depois foi determinada a grande diferença de aroma entre ambos os sexos. Os pesquisadores descobriram que as mulheres possuem um composto inodoro que contém enxofre. Essa substância foi mesclada com bactérias que se encontram nas axilas e se transformou em um composto químico chamado “tiol”, com um cheiro similar ao da cebola.
Os homens produzem uma mescla de compostos distinta, entre os quais se destaca um ácido com aroma similar ao do queijo. Isso quando entra em contato com as enzimas que produzem as bactérias da axila.
“O odor desagradável causado pelo suor ocorre devido à ação dessa bactéria na pele.”
Enxofre extraviado
Christian Starkenmann explica como foi a origem dessa curiosa experiência. “Os perfumistas tentaram recriar o mau cheiro do suor e se basearam em análises publicadas anteriormente. Perceberam então que os componentes do enxofre haviam desaparecido e nos pediram para localizá-los.”
A microbióloga francesa Myriam Troccaz reestudou os microorganismos das axilas e fermentou um suor estéril. “Com a ajuda dos perfumistas se deu conta que a bactéria (S. hamolyticus) foi muito eficiente na produção de aroma de enxofre”, conta Starkenmann.
“Fermentamos 500 ml de suor com a bactéria e descobrimos um elemento de enxofre.”
Três empresas publicaram os resultados quase ao mesmo tempo. “Também trabalhei com os precursores do odor de cebola e por essa razão pesquisamos esses precursores.”
Por último, Troccaz e Starkenmann esperavam constatar possíveis diferenças entre homens e mulheres (como realmente resultou) e compararam o suor de ambos os sexos. “Isso foi sobretudo um trabalho de equipe.”
Resultados extrapolativos?
No entanto, muitos cientistas acreditam que a experiência não teria chegado aos mesmos resultados fora da Suíça, pois a produção desses compostos pode depender de fatores como o regime alimentar ou genéticos.
Christian Starkenmann diz estar entusiasmado com a possibilidade de estender as provas ao âmbito internacional.
“Seria um sonho para mim poder estudar essa questão. Já solicitei a coleta de amostras de suor na Índia, no Brasil e na Rússia, mas ainda estou esperando que liberem o orçamento.”
Há algumas semanas, um estudo similar concluiu que as mulheres podem intuir se atraem os homens pelo odor que expelem quando sentem um impulso sexual.
Por último, Starkenmann não acredita que o odor das mulheres seja mais difícil de suportar do que o dos homens, como apontam alguns cientistas. “Não creio nessa afirmação. Mesmo que os homens depilem as axilas e sejam mais rigorosos na higiene, temos a impressão que o odor deles é mais forte.”
Aparentemente “as mulheres não gostam do odor do suor feminino. Pelo visto, as mulheres se sentem mais incomodadas com o cheiro do suor das próprias mulheres do que com o dos homens. Dito isto, também é preciso dizer que não há dados científicos que corroborem essa tese.”
swissinfo, Iván Turmo
O cantão de Genebra tem pouco mais de 450 mil habitantes.
Em escala mundial, são produzidos 65 mil litros de perfume por ano.
12,7 milhões de litros de água de colônia são consumidos no mundo, por ano.
25% da produção mundial de perfume e água de colônia têm essências produzidas na Suíça.
Praticamente todos os gigantes da perfumaria mundial mantêm parte de sua produção em Genebra.
Grupos como Givaudan e Firmenich, número um e número três mundiais na produção de essências, estão estabelecidos na Suíça há mais de 120 anos.
Givaudan tem 8.770 funcionários em todo o mundo e está presente em 46 países.
Firmenich tem 1.500 funcionários na Suíça.
Mais recentemente, a P&G emprega 300 pessoas em Genebra e 1.500 em outros países europeus.
A francesa Clarins, proprietária de perfumes como Thierry Mugler, Azzaro, Hermes e Salvatore Ferragamo, opera de Genebra com 125 funcionários.
Por sua vez, LCI Cosmetics Internacional, que distribui marcas como Calvin Klein, Cerruti, Chloé, Karl Lagerfeld e Vera Wang, tem 65 funcionários em Genebra.
A empresa Wodma 41, que distribui Shiseido, Issey Miyake, Jean-Paul Gaultier, Narciso Rodríguez e Serge Lutens, começa a se instalar em Genebra e já contratou 30 funcionários.
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