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Uma ilha tropical nos Alpes suíços

A arquitetura da exótica Casa Tropical em Frutigen, ao pé dos Alpes swissinfo.ch

A água quente drenada de um túnel ferroviário permite produzir caviar e cultivar plantas tropicais nos Alpes suíços.

A “exótica” Casa Tropical de Frutigen reúne aquacultura, turismo e laboratório de energias renováveis sob o mesmo teto e pretende atrair 80 mil visitantes por ano.

O perfume das orquídeas e bromélias mistura-se ao cheiro de terra úmida. Mamoeiros, mangueiras e pés de café crescem viçosamente. Bananeiras carregam seus primeiros cachos.

Aqui dentro, a temperatura é tropical; lá fora, ela gira em torno de zero grau neste inverno europeu. As montanhas ao redor do vale Kander estão cobertas de neve.

Estamos na Tropenhaus, a Casa Tropical, em Frutigen, 800 m acima do nível do mar, a 50 km de Berna, mas o cenário também poderia ter sido criado por Hollywood para um filme sobre mudança climática. “Exótico” é o mínimo que se pode dizer deste projeto de 30 milhões de francos.

A ideia nasceu do fundo da terra. Cem litros de água com temperatura de 20 graus saem por segundo do túnel ferroviário de Lötschberg, de 14,6 km, que liga os cantões de Berna e Valais, entre Kandersteg e Goppenstein.

Antes de ser lançada no gelado rio alpino Kander, ela precisa ser resfriada. Foi daí que surgiu há dez anos a ideia do mestre de obras do túnel, Peter Hufsmied, de usar a água para a criação de esturjão, peixe que gosta de água quente, e para o cultivo de plantas tropicais.

“Temos a sorte de ter aqui energia geotérmica suficiente para desfrutar, descobrir e entender. Vamos criar esturjões que produzirão caviar, abordar temas como as energias renováveis e oferecer os peixes e as frutas no restaurante, mostrando que luxo e sustentabilidade não se excluem”, diz o gerente Fritz Jost à swissinfo.ch.

Caviar alpino

A criação do peixe ameaçado de extinção – inédita na Suíça – é o principal pilar do projeto. Até 60 mil esturjões deverão nadar nos Alpes em breve e produzir três toneladas de caviar e 45 toneladas de carne por ano para a rede de supermercados Coop, a segunda maior da Suíça. Hoje o país importa quase quatro toneladas de caviar por ano (veja link).

Além disso, a previsão é colher anualmente até dez toneladas de frutas tropicais, como banana nanica, mamão (papaia), manga, carambola e físalis, para enriquecer o cardápio do restaurante e dos banquetes festivos realizados na Tropenhaus.

Segundo Jost, as plantas tropicais são apenas “uma atração adicional. Com elas queremos mostrar que é possível fazer uma coisa boa com a energia excedente da criação de peixes. Elas servem também como material pedagógico e científico” (veja galeria na coluna à direita).

Antes de chegar à estufa, onde crescem cerca de 30 espécies de frutas tropicais, o visitante passa por uma exposição de cerca de um milhão de francos sobre energias renováveis (sobretudo geotermia) e sobre as 26 espécies de esturjões, que futuramente poderão ser vistos ao vivo no local.

Imitando uma floresta

O que ele não encontra em Frutigen é uma verdadeira floresta tropical. “Não se pode plantar aqui uma floresta nativa. Isso seria artificial”, admite Jost. “Mas, dentro um ano, se tudo der certo, teremos algo semelhante a uma floresta.”

A Tropenhaus tem a pretensão de se transformar também no maior parque interativo de energia da Suíça. “Queremos mostrar que é possível suprir boa parte da demanda de energia daqui a 15 ou 20 anos através de fontes renováveis, com produção e distribuição locais”, explica Jost.

Além da geotermia, a Casa Tropical usa energia solar (tem 1150 m2 de painéis solares na cobertura), hidrelétrica e biomassa. A central elétrica de Berna testa energias renováveis no local. E a Universidade de Berna realiza pesquisas sobre a criação sustentável de esturjões.

A casa também é um laboratório para plantas tropicais que poderão crescer ao ar livre nos Alpes, caso se tornem realidade as piores previsões de mudança climática? Jost ri e desconversa. “Bananeiras e mamoeiros talvez um dia possam sobreviver nos Alpes. No mais, a natureza fará com que cada planta cresça em seu lugar adequado.”

Projeto faz escola

Para a região do rio Kander, a Casa Tropical já produziu frutos. Ela tem 45 funcionários, o que corresponde à geração de 25 empregos em tempo integral. Sua principal fonte de receita, por enquanto, são os turistas que passam por Frutigen em direção às estações de esqui de Kandersteg e Adelboden.

O projeto já recebeu dois prêmios nacionais por seu caráter inovador e começa a fazer escola. Nas entradas norte e sul do túnel ferroviário do Gotthard, o maior do mundo, há projetos para aproveitar a água de drenagem, provavelmente também para a criação de peixes.

Em Wolhusen, no cantão de Lucerna (centro da Suiça), será inaugurada em março de 2010 uma casa tropical de 5360 m2, também ligada à Coop, que irá produzir frutas e verduras “exóticas”. Lá os suíços poderão comprar bananas e papaias “nacionais”, mas o gerente Pius Marti já avisa: “Não vamos poder produzir para toda a Suíça.”

O idealizador do projeto de Frutigen, Peter Hufsmied, já advertiu que “as casas tropicais ameaçam se canibalizar”. Mas Fritz Jost não teme a concorrência de Wohlhusen e de outros projetos semelhantes.

“Em Wohlhusen há outras condições: a água tem 80 °C (resultante da compressão de gás natural), a nossa tem 20° C. Nossa água vêm de uma montanha muito estável e deve jorrar ainda daqui a cem ou 200 anos. E a prefeitura nos apoia completamente. Isso são trunfos que não são fáceis de copiar.”

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch

Tropenhaus Frutigen:

Inauguração: 21 de novembro de 2009

Área: 30.500 m2
Área coberta: 12.200 m2 (1150 m2 de painéis solares)

Investimento: cerca de 30 milhões de francos
Tempo de construção: 18 meses

Produção anual prevista: 45 toneladas de carne e esturjão e 3 toneladas de caviar; cerca de 10 toneladas de frutas tropicais

Funcionários: 45
Visitantes esperados: 80 mil por ano

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