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Suíço produz azeite biológico em Portugal

O azeite de oliva do suíço vêm das oliveiras encontradas na sua quinta "Risca Grande". swissinfo.ch

No coração do Alentejo, em Portugal, o suíço Andreas Bernhard produz um azeite de oliva que é prensado junto com frutas. Após um começo caótico, a produção do "Risca Grande" se tornou um sucesso. Uma história de paixão.

A terra ferve ainda sob o sol de um outono ardente. A perder de vista, as oliveiras resplandecem um verde prateado característico das suas folhagens, que abrigam as preciosas pepitas verdes ou negras dos seus frutos.

No Alentejo, província do sul de Portugal, a cultura da oliva é uma história ancestral que liga essa região de um país atlântico ao Mediterrâneo. É em Serpa, poucos metros distante da fronteira com a Espanha, que se encontra a quinta Risca Grande, assim denominada pelo fato de se tratar de uma larga faixa de terra fértil que separa terrenos mais pedregosos.

Destino nas olivas

É esse “meio de lugar nenhum” que chamou a atenção de Andreas Bernhard. O zuriquense de origem conhece Portugal desde a sua infância. Há quinze anos, ele se instalou na região do Algarve, com a sua família. Porém, sob pressão de um turismo invasor, a família de Bernhard começou a sentir falta de ar.

Saudoso de espaço e natureza, Andreas Bernhard procura e encontra seu destino: serão as oliveiras. “Minha esposa e eu procuramos uma atividade que nos permitisse continuar vivendo em Portugal. Descobri o azeite de oliva graças a reportagens na televisão. Logo compreendi que havia um potencial no país para relançar essa atividade.”

Então, “quando encontrei a quinta Risca Grande, não hesitei”, revela Bernhard. Ele é tímido, pouco eloqüente, a não ser quando fala do trabalho e das suas plantações. Na sua chegada, em 2001, não havia nada em Risca Grande a não ser as oliveiras.

Uma pequena propriedade

Hoje ele possui um terreno de 92 hectares. Os olhos claros de Andreas Bernhard franzem de divertimento. “Isso não é nada, meu vizinho mais próximo, um português, possui 900 hectares. Um pouco mais distante, um espanhol comprou 12 mil hectares. Eu sou apenas um pequeno proprietário”.

Apesar disso, vê-se oliveiras cobrindo todo o horizonte. E sobre esse espaço foi necessário construir a casa, trazer água encanada, eletricidade e cuidar das árvores que já estavam abandonadas há muito tempo. Depois, o suíço, com seu entusiasmo de precursor, instalou uma prensa de olivas e logo começou a encher suas primeiras garrafas de azeite de oliva, tão artesanal quanto saboroso.

Também de forma rápida surgiram os problemas. A máquina burocrática funciona também muito bem nessa região: era impossível fazer azeite de oliva nessas condições. Os organismos de controle de Évora, a capital administrativa da região, eram formais: era necessário aplicar regras estritas no que diz respeito às dimensões da prensa e da higiene.

Laboratórios

Bruxelas passou por lá e, como para muitos produtos alimentícios de tradição, as propriedades agrícolas se transformam em laboratório. Andreas Bernhard insiste, batalha, resiste, perde, planta e cresce.

“Hoje em dia estamos na quarta geração de máquinas de trabalho. É necessário investir sem cessar para garantir a competitividade. Países como a Austrália, África do Sul ou o Chile também começaram a produzir azeite de oliva e se posicionam no mercado de forma agressiva”, revela o zuriquense. A marca Risca Grande foi registrada em 2006.

Andreas Bernhard gosta de mostrar aos visitantes a sua prensa, as esteiras rolantes que levam as olivas frescas até a prensa supermoderna, onde os tubos de PVC foram inclusive substituídos por aço inoxidável. “As regras para produtos biológicos são muito exigentes e estão em evolução constante. É necessário dizer que a demanda aumenta sem parar.”

Como na vinicultura

“Os produtos biológicos se vendem muito bem”, explica o suíço. A marca conseguiu um contrato exclusivo com a rede helvética de supermercados Coop. As pequenas garrafas do seu azeite de oliva são colocadas nas prateleiras de produtos gourmet. Elas também são vendidas na Alemanha e na França.

Um detalhe: Andreas Bernhard também soube diversificar seu produto ao introduzir aromas de limão, laranjas e tangerinas, que são trituradas juntamente com as olivas. Os aromas cítricos penetram no óleo exatamente da mesma maneira como ocorre com o vinho nos tonéis de carvalho.

Inclusive, as comparações com a viticultura são freqüentes quando o assunto é o azeite de oliva. Andreas Bernhard chegou mesmo a participar de um curso de degustação em um laboratório…de enologia.

Um suíço um pouco maluco

O proprietário do Risca Grande sabe que seus vizinhos o chamam de “o suíço louco”, mas Bernhard não se incomoda.

“É verdade que os espanhóis estejam comprando centenas de hectares de terra para plantar oliveiras, pois no seu país já não há mais água para realizar uma cultura intensiva. Mas eu fiz a escolha de ter uma produção mais reduzida, com certificado de origem português e respeitando critérios biológicos e com muita qualidade. Remo contra a corrente, mas é o que gosto de fazer”, defende-se.

Ele convenceu um proprietário português a passar também para a agricultura biológica. Cem hectares de oliveiras irão aumentar a produção do Risca Grande. As novas plantações de oliveiras estão ladeadas de árvores frutíferas para garantir sua origem biológica. Andreas Bernhard conhece o preço da originalidade e, sem ajuda da sua família, não seria possível ter sucesso no ramo.

A colheita de novembro

Hoje sua fazenda representa um investimento de três milhões de euros. Sua esposa e seus dois filhos também trabalham na propriedade.

“Será necessário rever com a burocracia para modificar o status do Risca Grande”, suspira Andreas Bernhard. Mas sua verdadeira preocupação é a próxima colheita que se anuncia, nos primeiros dias de novembro.

swissinfo, Marie-Line Darcy

Andreas Bernhard nasceu em Lachen, no cantão de Schwyz. Ele viveu em Pfäffikon (cantão de Zurique) até completar os trinta anos. Depois fez uma formação profissional em comércio e começou a ajudar na plantação de maçãs dos pais. Posteriormente ele girou pela Europa para aprender idiomas.

No final dos anos 90, com sua esposa, também suíça, ele se instala no Algarve, sul de Portugal, onde trabalha na construção. Depois é a agricultura, seu sonho, que o incita a investir nas oliveiras da quinta de Risca Grande, no Alentejo.

Hoje, aos 46 anos, Andreas Bernhard dirige a fazenda com a sua mulher, Doris, que é encarregada da contabilidade, e seus dois filhos, Alfred (26 anos) e Samuel (17 anos).

A comunidade suíça em Portugal: aproximadamente três mil suíços estão recenseados pelo serviço consular da Embaixada da Suíça em Lisboa, dos quais dois terços são binacionais.

No plano comercial, pela primeira vez em 2007, as exportações suíças em direção a Portugal chegaram ao bilhão de francos suíços.

A Suíça é o 7° parceiro comercial de Portugal.

A região do Alentejo é uma região (NUTS II) portuguesa, que compreende integralmente os distritos de Portalegre, Évora e Beja, e o sul dos distritos de Setúbal e de Santarém. Limita-se ao norte com a região Centro, a noroeste com a região de Lisboa, a leste com a Espanha, a sul com o Algarve e a oeste com o Oceano Atlântico. Área: 31.152 km² (33% da área continental de Portugal). População (2007): 760.933 (7,5% da população da parte continental).

A União Européia deu o direito de plantação de 30 mil hectares de oliveiras em Portugal, o que desencadeou um investimento maciço de espanhóis.

A agricultura biológica,, ainda limitada, conhece um desenvolvimento importante – a área cultivada dessa forma passou de 100 mil e 200 mil hectares entre 2000 e 2005.

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