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A beleza selvagem do Vale Maggia

Foroglio, um típico povoado com casas de pedra no Vale Maggia. swissinfo.ch

"A melhor maneira de conhecer a beleza natural da Suíça é a pé", diz Jürg Schmid, diretor da Suíça Turismo. Por isso, a agência estatal de promoção do turismo comemora em 2010 o "Ano do Hiking" e promove uma série de trilhas.

A fim de atrair também visitantes estrangeiros para este esporte, a Suíça Turismo realizou 11 caminhadas com 140 jornalistas de todo o mundo. Swissinfo.ch acompanhou uma excursão de dois dias ao Vale Maggia, no Ticino(sul).

“Com seus 63 mil km de trilhas sinalizadas, a Suíça é um verdadeiro paraíso para caminhadas”, diz Schmid, que ao mesmo tempo tranquiliza os iniciantes: “Na pequena Suíça não é preciso andar centenas de quilômetros a pé. Os trens e teleféricos suíços vão até bem próximo dos picos.”

Nossa excursão com 20 jornalistas de 13 países começa com uma viagem de ônibus de duas horas e meia de Lugano ao Lago di Narèt, no Vale Maggia, um dos maiores vales do Ticino. “Este é um vale mágico. Quem vem aqui uma vez, volta sempre”, diz Fabio Lafranchi, diretor da agência regional Vallemagia Turismo, aos nos receber.

Ele explica que o Valle Maggia, na verdade, é formado por cinco vales (Val di Campo, Val di Bosco, Val Bavona, Val Lavizzara e Val Peccia) que se abrem como os dedos de uma mão. A região é caracterizada por povoados rurais com casas de pedra, pequenos Grotti, nos quais são servidos pratos típicos, altas montanhas, florestas de castanheiras, faias e coníferas, lagos alpinos e geleiras.

Procura-se um emerita

“Mas o Ticino não tem só lagos e montanhas, como também arte”, ressalta Marco Solari, presidente da Ticino Turismo, destacando, entre outras coisas, obras de famosos arquitetos do estado (cantão). Um exemplo disso é a igreja de São João Batista, no povoado de Mogno, no Val Lavizzara, que visitamos a caminho das montanhas.

Ela foi projetada por Mario Botta, estrela da arquitetura do Ticino, e construída em 1997 no lugar do antigo templo de 1636, destruído por uma avalanche em 1986. A igreja elíptica de mármore branco e pedra preta causa controvérsias entre os habitantes locais e visitantes, como explica a guia Donatella Gerosa.

Alguns a consideram uma obra-prima da arquitetura, outros a veem como um corpo estranho na paisagem idílica do povoado. Atualmente a Associação pela Reconstrução da Igreja procura um “eremita” para responder às perguntas dos turistas no local.

Geleiras, chuveiro quente e cabrito montanhês

A meia hora de ônibus vale acima encontra-se o Lago di Narèt, ponto de partida da nossa caminhada. Da margem norte do lago sobe uma trilha em direção ao Passo del Narèt (2438 metros de altitude). De lá descemos por uma encosta pedregosa ao Val Torta, enquanto ouvimos os assobios de marmotas. Após cruzarmos o vale, passamos pelas ruínas da antiga cabana Cristallina, destruída em 1999 por uma avalanche.

Depois de três horas de caminhada, chegamos à nova Capanna Cristallina (a 2575 m), onde pernoitamos. Construída em 2002 no desfiladeiro Cristallina, ela é considerada uma das mais modernas das 153 cabanas do Clube Alpino Suíço (CAS), oferece 130 leitos e, por 5 francos suíços, é possível até tomar banho de chuveiro quente.

A cabana está aberta de junho a início de outubro, bem como nos finais de semana e feriados do inverno europeu. A arrendatária Eliana Ferretti conta que o número de hóspedes depende muito do tempo. “Quando faz sol, a casa está cheia. Hoje 90 camas estão ocupadas e para o final de semana a cabana está completamente reservada”, diz satisfeita.

Do terraço da cabana vê-se desde a geleira Basodino, a maior do Ticino, os picos que rodeiam o Val Bavona até o maciço do Gotthardo ao norte. Um pouco acima da cabana, o olhar se estende até o Monte Rosa, no Valais (oeste), onde ficam as montanhas mais altas da Suíça.

Rochas, pedregulhos e manchas de neve caracterizam esta estéril paisagem alpina. Nas encostas íngremes atrás da cabana, avistamos neste dia nove cabritos montanheses comendo as últimas folhas de capim entre as pedras.

Mais de 800 km de trilhas

A descida, na manhã seguinte, vai em direção à geleira Basodino, passando por mais três lagos alpinos: Sfundau, Bianco e Lago di Robiei. Logo deixamos para trás a aridez dos altos Alpes e voltamos a ouvir os sinos das vacas nas pastagens. À beira do Lago di Robiei (1940 m), onde um pastor recolhe seu rebanho de cabras, embarcamos no teleférico e flutuamos para San Carlo, um povoado situado mil metros abaixo, no Val Bavona.

Um ônibus amarelo dos Correios leva os jornalistas para Locarno, depois de um almoço com polenta e vinho tinto num dos típicos Grotti. Saindo do vale, ainda visitamos a cascata de Foroglio, de 110 metros de altura, um dos mais impressionantes espetáculos da natureza da região. O povoado em si também é uma atração. Em suas casas de pedra de granito, o tempo parece ter parado.

Como outros povoados do Val Bavona, que produz muita energia de suas três represas, Foroglio sequer está conectado à rede nacional de eletricidade. Quem vive e trabalha aqui usa células solares, gás, óleo, pequenas turbinas de água ou velas para a iluminação.

O caminho de Mogno a Foroglio, passando pela Cappanna Cristallina e Robiei, mostrou que o Vale Maggia tem muito a oferecer: uma rede de mais de 800 km de trilhas, 40 lagos alpinos, uma fauna e flora diversificadas, povoados que ficaram parados no tempo e até impressionantes obras de arquitetura contemporânea. Mas também é impossível não ver intervenções humanas como represas e teleféricos.

Geraldo Hoffmann, Vale Maggia, swissinfo.ch

“Lagos & Montanhas” foi o tema deste ano do International Media Trip, para o qual a agência estatal Suíça Turismo convidou representantes da mídia de todo o mundo na última semana de agosto.

Um total de 140 jornalistas de 31 países conheceram no primeiro dia da viagem (24/8) a região do Lago de Lugano, o Monte Generoso e o museu ao ar livre Swissiminiatur, em Melide, no Ticino (sul).

Nos dois dias seguintes, eles visitaram em pequenos grupos 11 destinos de turismo e montanhismo nas diferentes regiões do país, quatro deles no Ticino: Lago Maggiore e Cardada, Vale Maggia, Bellinzona e Vale Blenio, bem como a região de São Gotthardo-Airolo-Vale Piora.

As outras excursões foram para Arosa (Grisões – leste), a região de Jungfrau (Alpes de Berna), Jura e três lagos (inclusive Solothurn, Neuchâtel e o monte Chasseral), região do Lago de Genebra, a “Rota de Gruyère” e Friburgo (oeste), Lago dos Quatro Cantões (Lucerna, Engelberg/Tittlis), bem como Goms e a “Rota do Vinho”, no Valais (sudoeste).

Swissinfo.ch acompanhou a excursão ao Vale Maggia. Todos os custos da viagem foram cobertos pela Suíça Turismo e seus parceiros e patrocinadores.

A Suíça tem uma rede de mais de 60 mil km de trilhas, com uma grande variedade de opções tanto para iniciantes quanto para montanhistas experientes.

A Suíça Turismo declarou 2010 como o “Ano do Hiking” e, em cooperação com o banco UBS e SchweizMobil, lançou um guia com as 32 trilhas mais espetaculares do país – 12 delas receberam uma nova e especial sinalização.

Segundo estatísticas do Departamento Federal de Esportes – ligado ao Ministério da Defesa –, os suíços fazem 130 milhões de horas de caminhadas por ano.

Em média, um montanhista suíço realiza anualmente cerca de 20 caminhadas de 3,5 horas cada. O típico adepto do montanhismo é masculino, tem idade entre 40 e 60 anos e vem da parte alemã da Suíça.

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