Uma Olimpíada com sabor agridoce
Um gigantesco show de propaganda ou uma festa de recordes esportivos: de 08 a 24 de agosto, Pequim é o palco de uma Olimpíada das contradições, politizada já na véspera.
Os Jogos abertos nesta sexta-feira no “Ninho de Pássaro” oscilam entre a chance de abrir a China para o mundo e o risco de virar um espetáculo político-militar prejudicial ao ideal olímpico.
A esperada dualidade no império do centro transforma os Jogos Olímpicos numa “loucura histórica”, escreve o jornal francês Libération.
A Olimpíada reúne a chance de que o país mais populoso do mundo mude definitivamente após a abertura temporária, sinalizada no gigantesco show de estréia, com o risco de que politizados jogos militares comprometam o ideário dos Jogos e a imagem do Comitê Olímpico Internacional (COI), comenta o Tagesanzeiger, de Zurique.
“Não sou medroso. Os Jogos darão à China uma abertura nunca antes vista”, afirma o presidente do COI, Jacques Rogge. “A China conhecerá melhor o mundo e o mundo conhecerá melhor a China. E isso é positivo.”
Uma das tarefas de Rogge é evitar que a segunda Olimpíada num país estatizado, depois de Moscou 1980, vire um evento monótono, formatado pelos donos da casa. A validade do lema “Um mundo, um sonho” será testada por 10.178 atletas (82 da Suíça) e 22 mil jornalistas.
A busca da perfeição
A China quer mostrar seus progressos e, com ajuda dos Jogos, impulsionar seu milagre econômico. Quase 40 bilhões de dólares foram investidos em infra-estrutura. Setenta mil voluntários ajudam a realizar o maior evento esportivo do mundo.
Os organizadores têm a ambição de que tudo funcione perfeitamente: que não chova no chuvoso mês de agosto, que o smog duradouro desapareça sobre Pequim e que e o futuro do país se expresse também em medalhas.
É o que o New York Times chamou de “baile de máscaras olímpico”, acertando o ponto nevrálgico do evento. Espera-se um espetáculo de massas e de superlativos, teme-se escândalos de doping, catástrofes naturais e atentados. O COI fará 4.500 exames de doping em Pequim. Rogge calcula que cerca de 40 atletas serão flagrados.
“Diplomacia silenciosa”
O doping, porém, não deve ser o problema mais incômodo para os anfitriões. As críticas à situação dos direitos humanos, que, segundo a Anistia Internacional, piorou nos últimos anos, irritam bem mais a China.
No dia da abertura, houve protestos contra a política da China para o Tibete em vários países ocidentais, também na Suíça, cujo presidente, Pascal Couchepin, participou da cerimônia em Pequim ao lado de outros 80 estadistas. Os chefes de governo da Alemanha, do Reino Unido e do Canadá boicotaram a cerimônia.
O governo chinês tem reagido com todo rigor às ameaças reais e imaginárias: silenciou dissidentes, limitou o trabalho dos jornalistas estrangeiros e ampliou a censura.
Apesar do forte policiamento, houve protestos em Pequim às vésperas dos jogos. O paradeiro de alguns ativistas estrangeiros presos no início da semana por pedir “liberdade para o Tibete” ainda é desconhecido.
Durante os sangrentos protestos anti-chineses no Tibete, em março deste ano, os líderes em Pequim recorreram a métodos brutais para sufocar a rebelião, que ameaçava se alastrar para outras regiões.
Quando, ao mesmo tempo, a tocha olímpica esbarrou em manifestações de rua em seu giro pelo mundo, iniciado na Grécia (24/03/08), o COI e Rogge foram criticados: pela China, por não impedir os protestos, e por governos ocidentais, por permitir o giro da tocha apesar da violência na China.
A “diplomacia silenciosa” de Rogge em relação à China fracassou. Durante os tumultos, seu silêncio gritou tão alto que ofuscou o brilho dos valores olímpicos, dos quais os direitos humanos são parte essencial, opina o Tagesanzeiger.
Poder e impotência
Desde a concessão dos Jogos a Pequim, em 2001, continua o diário de Zurique, o COI é um “parceiro tolerado” pelos anfitriões. E, na crise, a China mostrou novamente que é um gigante apaixonado pelo controle, disposto a se tornar a potência do século 21.
Mas, em meados de maio, quando a terra tremeu em Sichuan e matou mais de 70 mil pessoas, a impotência e a vulnerabilidade do império gigante geraram uma onda de solidariedade. Também por essa polaridade o verão olímpico é imprevisível.
Para os estrangeiros que visitarão a China durante os Jogos, o ativista dos direitos humanos Hu Jia e o advogado Teng Biao descreveram as contradições do país numa carta. “Eles poderão ver a verdade, mas não toda a verdade. Eles não poderão saber que as flores, o sorriso, a harmonia e o bem-estar foram construídos sobre abusos, lágrimas, prisões, tortura e sangue.”
swissinfo, Geraldo Hoffmann (com agências)
A Suíça participa com 82 atletas das Olimpíadas 2008. A meta mínima é conquistar cinco medalhas. O presidente suíço, Pascal Couchepin, visitou os atletas suíços na Vila Olímpica, nesta quinta-feira, e participou, junto com mais 80 chefes de Estado, da cerimônia de abertura dos Jogos.
Os oito dias de competição mais importantes para a Suíça serão:
Domingo 10 de agosto: Marcel Kauter, esgrima
quarta-feira 13: Sergei Aschwanden, judô; Fabian Cancellara, ciclismo; e Katrin Thürig, ciclismo
Sábado 16: Flavia Rigamonti, natação, 800 m
Domingo 17: Roger Federer, final de tênis; Katrin Thürig, ciclismo em pista
segunda-feira 18: triátlon femenino
terça-feira 19: triátlon masculino
quinta-feira 21: Bicicleta de Montanha, com Roger Rinderknecht e Jenny Fähndrich
Domingo 24: Viktor Röthlin, maratona
A Olimpíada de Pequim foi declarada aberta às 8h08 de 08/08/08. O “8” é um número de sorte na China.
– 302 provas em 16 dias.
– 6 locais de competição fora de Pequim (Hong Kong, Qingdao, Tianjin, Shenyang, Xangai, Qinhuangdao).
– 10.178 atletas participam dos Jogos.
– 16.000 atletas e autoridades se hospedam na Vila Olímpica.
– 22.000 jornalistas cobrem os Jogos.
– 70.000 voluntários foram recrutados entre 560.000 candidatos.
– 91.000 pessoas cabem no novo estádio ‘Ninho de Pássaro’.
– 7 milhões de ingressos postos à venda.
– 5 mil iuanes é o preço do ingresso para a cerimônia de abertura, o que equivale a 661,40 dólares.
– 15.810.000 é o número de habitantes de Pequim.
– 2 milhões de pessoas devem visitar Pequim durante os Jogos.
– 65.000 ônibus e táxis velhos serão retirados da cidade antes dos Jogos.
– 10 milhões de bicicletas circulam em Pequim.
(Fonte: Reuters)
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